terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A Idéia de Deus

A Consciência humana e a construção histórica
das diferentes visões-de-Deus no interior da humanidade

Primórdios

Deus é uma idéia ?
Ou Deus é uma realidade ?
Deus é uma Energia ?
O Pensamento ?
Uma possibilidade ?
Deus criou o homem, ou o homem criou Deus ?
O Fato é que no decorrer da história da humanidade até os dias atuais o ser humano em geral tem criado na sua própria consciência uma certa imagem de Deus, à qual dá existência, ou então simplesmente a nega e ignora.
Para os que acreditam em Deus, Ele é uma garantia de fé, uma segurança de vida, sobre as quais se apóiam, e abraçam-nas como sua tábua de salvação nesta vida.
Para os que não têm fé, os ateus, Ele não existe, e por isso cotidianamente o negam, o contrariam, o ignoram e o contradizem, ainda que possa ter a possibilidade de existir, segundo eles.
E para nós quem é Deus ?
Ou ainda o que é Deus ?
Deus, na verdade, é uma realidade, todavia essa realidade tem muitos nomes diferentes, ou pode ser interpretada de diversas maneiras, como se observa no movimento tempo-espacial e histórico da vida das sociedades humanas, em todos os tempos e lugares, desde seus princípios mais remotos até os dias de hoje.
É o que veremos de agora em diante.



A Imagem de Deus no tempo e na história

1) Os Povos Antigos e sua representação da idéia de Deus ( Séc. antigos a.C. até o Séc. IV d.C.)
a) O Povo da China
Os Chineses, seguidores e admiradores de Confúcio, fundador do Confucionismo, de tradição milenar, têm uma cultura onde a experiência de vida – os mais velhos – desenha toda e qualquer forma de religiosidade ou divindade. Ou seja, a possibilidade de um deus eterno combinaria certamente com idéias e ideais voltados para a temporalidade, eternidade, experiência, tradição, fundamentalismo cultural, radicalismo ético e moral. Deus então é o Senhor mais velho, com quem devemos aprender a grandes lições da vida.
b) O Povo da Índia
Os Indianos buscam basicamente em Sidarta Gautâmi, o Buda, fundador do Budismo, seu Modelo de Religião ou Filosofia religiosa, com fortes apelos para a ordem, a paz e a organização da mente, de onde certamente o deus indiano viria, nela se apoiaria e em função dela construiria seu pensamento e suas atividades e atributos fundamentais.
c) O Povo do Egito
Os Egípcios e seus Faraós propunham uma imagem divina que se formatava e configurava com o poder que seus governantes tinham diante do seu povo. Ou seja, deus no céu e o faraó na terra. Sua política se identificava com sua religião. Políticos e religiosos eram a mesma coisa, possuíam os mesmos cargos e as mesmas funções.
d) O Povo da Mesopotâmia
Os Mesopotâmios, cuja religiosidade, culto e divindade sacralizavam-se em regimes politeístas, viviam e conviviam em uma sociedade confusa, quase que alheia às suas estruturas políticas, as quais quase sempre misturavam-se com sua religiosidade. Vários deuses fundamentavam as atividades cotidianas do povo mesopotâmico, cujo dia-a-dia complicava-se e se confundia com cultos sacrais, liturgias obscuras, deuses estranhos e uma religiosidade que servia de base para a dominação, a exploração e a escravidão do povo pelo poder então reinante.

e) O Povo da Fenícia
Os Fenícios, com suas atividades marítimas, comerciais e mercantilistas, geraram um Modelo de Deus cuja identidade relacionava-se com um Deus Ativista, Trabalhador, Empreendedor, Comerciante que desejava o crescimento, o progresso e o bem-estar do seu povo.
f) O Povo da Pérsia
Os Persas, principalmente com Dario a frente do seu povo, e seu paradigma ético e moral de governar os seus, estenderam seu domínio idealizando um deus moralmente elevado e eticamente dominador. Por conseguinte, o deus persa era de uma fortaleza de virtudes tal que tornava a população persa combatente de ideologias influenciadas pelos vícios e decadências morais, corrupção ética e comportamentos aberrantes.
g) O Povo dos Hebreus
Os Hebreus, Judeus ou Israelitas acreditavam em uma religião monoteísta cujo Deus único, soberano, Todo-Poderoso, Onipotente, prometeu, com diversos sinais dos tempos, um Messias, Jesus Cristo, que seria o Salvador do mundo e o Redentor da humanidade. O Povo desde então esperava ansiosamente a chegada do Messias, o Rei Santo de Israel.
h) O Povo dos Caldeus
Os Caldeus misturavam religião com todos os campos da atividade humana, na qual os deuses infiltravam-se, inseriam suas vontades e incluiam seus desejos. Ora, esses deuses nada mais eram do que uma forma dos poderosos exercerem seu domínio sobre o povo escravo, dependente e explorado.
i) O Povo da Babilônia
Os Babilônicos, sobretudo no tempo do Rei Nabucodonozor, semelhantes aos seus vizinhos, desenvolviam uma religiosidade igualmente confusa e complicada cujo regime também se oferecia como instrumento de dominação e exploração do povo então escravo, prisioneiro e dependente. Os deuses trabalhavam para o Rei.
j) O Povo da Grécia
Na Mitologia Grega se desenhavam os deuses da Grécia Antiga. Seus mitos, deuses antropomórficos, em forma de gente humana, comungavam, se identificavam e participavam do cotidiano grego, da sua realidade do dia-a-dia, onde a ética e a política de Atenas e outras cidades gregas tinham um papel privilegiado na cultura da época.
k) O Povo de Roma
A Cultura Romana - instável, inconstante e perambulante do ponto-de-vista religioso – possuía uma estrutura política forte e militarmente quase invencível, contudo bastante flexível e acomodada quanto ao seu interesse em aculturar, colonizar, manipular e monopolizar outros povos subalternos, mais fracos e derrotados em seus conflitos guerreiros contra o Poder de Roma, ao ponto de seus líderes imperadores, entre eles César Augusto, Marco Aurélio e Nero, desenvolverem um ideal cultural que suportava, e até apoiava, os cultos religiosos daqueles povos e nações submetidas aos imperadores romanos. Prevaleceu então portanto em Roma e em seus vizinhos o culto de diferentes religiões monoteístas e politeístas. Tal era a estratégia política de dominação e sujeição do Poder Romano. Uma política forte, mas tolerante quanto aos cultos religiosos.
2) Deus no Mundo Medieval ( Séc. IV d.C. até o Séc.XIV d.C.)
No período medieval, tempo da Cristandade, sob a influência da Igreja Católica construiu-se um Modelo de Deus chamado Santíssima Trindade – Deus uno e trino – onde 3 pessoas formavam uma mesma natureza divina: o Pai Criador da Vida; o Filho, Jesus Cristo, Salvador do Mundo e Redentor da Humanidade: e o Espírito Santo Santificador da Igreja Católica, também chamada de Povo de Deus Peregrino sobre a Terra.
3) Deus visto pela Modernidade ( Séc. XIV d.C. até o Séc. XVIII d.C.)
A Idade Moderna tem início com diversos movimentos, tais como, a Reforma Protestante(contrária a muitos princípios da Igreja Católica), o Mercantilismo(nascido da burguesia da Idade Média), o Renascimento e o fluxo de idéias e ideais do Iluminismo – igualdade, liberdade e fraternidade – que culminaram na Revolução Francesa (1789). Tais movimentos mostraram uma nova visão-de-mundo, de homem e de sociedade. E consequentemente, uma nova visão-de-Deus. Deus era algo ou Alguém Racionalista, Científico, Tecnológico, que Projetara o homem e a mulher, a Terra, a Natureza, a Criação e o Universo, para crescerem e evoluirem infinitamente e assim serem eternamente livres e felizes. Ou seja, quando a deusa-Razão ocupa o lugar de Deus na Catedral de Notre Dame, em Paris, apresentava-se ao mundo inteiro o deus humano que o homem e a mulher projetaram para substituir o Deus Imortal, Real e Tradicional. Desde então, o Materialismo propagou-se internacionalmente sob a influência do Racionalismo e do Cientificismo modernos.
4) Como os contemporâneos imaginam a realidade divina ( Séc. XVIII d.C. até os nossos dias atuais )
A Revolução Francesa(1789), a Revolução Industrial(Inglaterra), o Partido Comunista fundado por Karl Marx e Engels, o Existencialismo(França e Alemanha), o Cientificismo(a Ciência como critério de verdade), os Meios de Comunicação Social, a ascensão da Ciência e da Tecnologia, o Rádio e a Televisão, o Telefone Celular, a Era da Informática(Computador,Internet), o Humanismo e o Historicismo(uma nova consciência do homem, do mundo, do tempo e da história), a multiplicação de seitas e diferentes credos religiosos, a abertura e renovação da Igreja Católica com o Concílio Vaticano II, ao lado do crescente ideal ateísta, relativista, indeterminista, ceticista, niilista e individualista – características do tempo atual – condicionaram, por um lado, a boa-fé do ser humano, e, por outro lado, a indiferença, a negação e a impossibilidade da existência de Deus no meio da sociedade contemporânea. Hoje, portanto, o mundo humano, natural e cultural está dividido entre ateus e não-ateus.
5) Deus nos dias de hoje ( Séc. XX e Séc. XXI )
Atualmente, como em toda a trajetória da vida da humanidade, a idéia de Deus parece subordinada e dependente da visão-de-mundo, de homem, de mulher e de sociedade, características, em todos os tempos e lugares da história humana, da produção cultural, racional ou não, que o ser humano constrói dentro da sociedade deste mundo temporal e histórico no qual vivemos.
Em outras palavras, o homem e a mulher dão origem à idéia de Deus. E por conseguinte, segundo tal ponto-de-vista humano, Deus, hoje, é Global e Diferencial. De acordo com a visão de cada um e a mentalidade desenhada em toda a sociedade, Deus pode ser individualizado ou generalizado. Obedece pois às diferenças de cada pessoa humana como também acontece na consciência ou inconsciência coletiva geral de todas as sociedades humanas atuais. Deus pois é global e diferencial. Serve a todos e a cada um. É manipulado por todos e por cada um.
Restam-nos algumas questões que ainda não foram resolvidas pela humanidade global ou diferencial:
1)Deus criou o homem e a mulher, ou foi criado por eles no decorrer de toda a história das sociedades humanas atuais e tradicionais ?
2)Deus pode e deve ser manipulado, instrumentalizado e racionalizado pelo homem e pela mulher ?
3) Deus intervém ou interfere ou não na vida, na natureza, no universo e na história da humanidade ?
4) Deus tem ou não vida própria ?
5) Deus é real ou racional ? É realidade espiritual ou apenas um mero sonho metafísico da humanidade ?
6) Deus é apenas um boneco na mão do homem e da mulher, ou tem uma vida própria e pessoal, ou se identifica de fato com uma realidade espiritual consciente e natural, e verdadeiramente transcendente ?
Responda você mesmo a estas interrogações.

Finalização

A História da humanidade tem nos revelado que a visão cultural do homem e da mulher sobre as diferentes faces da realidade é que criou até hoje a idéia de Deus que mantemos em nossa consciência humana e natural. Todavia, uma pergunta oportuna nos interessa neste momento, aqui e agora: Idéia de Deus ou Realidade Divina ? Deus criou ou é criado pelo homem e pela mulher ?
Esta resposta deve ser dada por cada um de nós pessoalmente.
Logo, o debate e a reflexão permanecem.
A Luta continua.
Que o Senhor Deus nos ajude a compreendê-Lo.
Que o Senhor Deus nos ajude igualmente a entender a racionalidade humana, que interpreta a tudo e a todos. Falta-lhe, porém, ainda hoje, a humildade em conhecer a verdade e reconhecer de fato que Deus é a Razão Superior e a Inteligência Suprema, Autora da Vida, Criadora do homem e da mulher, Genitora da natureza e do universo, Senhora do tempo e da história, Deusa de toda a eternidade.
Que Ela, Deusa e Senhora, nos ajude e nos abençôe sempre.

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