segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O Ser e o Vazio 1

O Ser e o Vazio

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Ouvir a voz do tempo

A Existência humana e sua realidade cotidiana nos apresentam os conteúdos do ser natural e universal, e os detalhes de sua essência globalizadora e as diferenças de sua substância totalizante.
À margem desses conteúdos pensantes, discernentes e cognoscentes está o vazio da vida indefinida e o nada dos ambientes indeterminados.
No vazio do ser, a irrealidade de um viver sem sentido e a irracionalidade de um existir sem razões suficientes para se constituir, se propagar, se consolidar e se estabilizar.
Ali, o nada é a presença, o vazio é a essência, o silêncio é a transparência, a ausência é a consciência, a falta é o todo, o abismo é o mais fundo da realidade e o mais profundo da eternidade.
Sim, entre as fronteiras do ser e suas manifestações simbólicas e imaginárias, eidéticas e eustáticas, intencionais e insofismáticas, vivenciais e experienciais, e os limites do nada que nada para o mergulho no oceano das coisas vazias e dos seres faltantes, das instâncias silenciosas e das aparências ausentes, se encontram as relações entre as pessoas, as suas conexões internas e externas, a sua interatividade com a realidade, o tempo e a história, o seu compartilhamento de tudo o que é bom e faz bem à vida humana, à natureza criada e ao universo gerado, a cooperação mútua entre grupos e indivíduos que comungam das mesmas idéias e conhecimentos e participam dos mesmos interesses em jogo, a colaboração recíproca entre comunidades distantes e sociedades locais, regionais e globais, o intercâmbio de atividades conscientes e de exercícios reais e racionais, temporais e históricos.
A Realidade da experiência cotidiana nos oferece essa possibilidade de vida e essa alternativa de trabalho: ser mediadores entre o ser e o vazio, intérpretes das concordâncias ou não entre a essência e o nada, visualizadores das discórdias ou não entre a substância vivente e o vácuo sem alma.
Somos pois na vida intercessores junto a Deus, realizando e construindo o ser, o pensar e o existir, e ignorando e destruindo os antagonismos da existência, as antinomias da humanidade, as contradições da vida, as adversidades da realidade e as contrariedades da consciência, da experiência e da existência, identificados com a cultura do mal, da morte e da violência e com uma mentalidade que despreza a saúde das pessoas e o bem-estar pessoal e social.
Nessas relações de vida, que fazem a conexão entre o ser e o vazio, se acha a energia vital, a dinâmica do mundo, o movimento da natureza e o processo de vida móvel do universo.
Somos relações vivas.
Vivemos em situações intercambiantes.
Existimos a partir de interatividades que se completam e em função de compartilhamentos que se enriquecem e aperfeiçoam na ajuda de uns aos outros.
Somos operações interdependentes.
Tal verdade real nos afasta de uma vida sem sentido.
Então, o vazio foge de nós e o ser se enche de conteúdo humano e natural.
Até as pedras se integram dentro dessa realidade interativa.
Tornam-se pedras vivas.
Ajudam na construção do edifício do bem e da paz, o principal conteúdo do ser.
Somos essas pedras vivas, produzindo no seio das sociedades humanas a fraternidade universal e a solidariedade entre os povos.
É como se Deus viesse habitar no meio de nós.
Ele, o Ser sem vazio.

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O Silêncio da Madrugada

Às vezes calar é melhor do que o ruído das palavras e o barulho das letras, pois temos necessidade de ordem interior, de disciplina mental e emocional, e de organização nos pensamentos e conhecimentos, e nada melhor do que uma vida de silêncio dentro de uma madrugada de obscuridades, de noite sem muitas estrelas, de trevas que fecundam a possibilidade de um amanhecer cheio de luz quando o sol chega para carregar de vida nossos nadas existenciais e nossos vazios espirituais. Então, silenciamos. E a madrugada faz-nos descobrir momentos luminosos que brilham diante da escuridão, gritando o farol de uma música celeste que chega para desvelar nossas noites sem chão nem teto, sem portas nem janelas, mas cujos princípios respeitam a grandeza de uma natureza iluminada por valores permanentes, absolutos e necessários, condições de um viver com sentido e de uma experiência que tenha significado profundo e verdadeiro para todos e cada um de nós. Ora, precisamos desses instantes esvaziantes que nos fazem sentir a falta da luz, que no vazio se transforma no melhor de uma vida transparente cuja razão de ser tem como alternativa um vazio de sentido autêntico pleno da verdade de nosso ser, pensar e existir. Sim, necessitamos do vazio ainda que o ser trabalhe com a plenitude das experiências reais e metafísicas e sua lógica permita a abundância de uma lógica onde os fenômenos ontológicos brilham a necessidade de se buscar preencher esses vazios físicos e sentimentais, materiais e espirituais, a fim de que nossas vivências temporais e históricas atinjam a riqueza de conteúdos onde o absoluto ocupa o tempo e o lugar de nossas faltas lingüísticas e faz-nos penetrar na essência da realidade de significado revelador de um ser e existência que se completam a partir dos vazios temporais de alternativas de possibilidade que nos fazem encontrar o sentido da vida. Nessas horas, até Deus tem um lugar, uma voz e uma vez em nossa interioridade. Somos vazios para a plenitude, nadas que se carregam da abundância do ser. Vivemos nessa dialética lógica e ontológica: a possibilidade de nossas vazios serem preenchidos pela totalidade e universalidade do ser e seus vazios potencializadores das possíveis belezas de uma vida interior de opções de qualidade, de conteúdo rico em substâncias ontológicas. Somos Ontologias perambulantes, que não ignoram seus vazios possibilitadores da abundância de uma experiência carregada de plenitude. De fato, precisamos do silêncio e de uma madrugada de vazios.

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A Vida em Metamorfose

A Tradição filosófica e a metafísica ocidental, os parâmetros lógicos da Ontologia clássica e o modo de tratamento das categorias do pensar e agir, sentir e existir, defenderam um “além da física” estável e absoluto, eterno e necessário, constante e permanente, olhando pois o vazio da alma de forma tranqüila e segura. Todavia, os efeitos da globalização real e atual e as atividades e relações de interdependência entre povos e nações, comunidades locais e regionais, e sociedades abertas, nos revelam que o vazio do espírito convive com as diferenças da realidade e as mudanças e novidades do cotidiano, participando portanto de um mundo de metamorfose constante onde as ações humanas se dispõem ao lado de um universo de polivalências naturais e históricas, e de uma natureza de multifuncionalidades e culturas transitórias, céticas e relativistas, indeterministas e individualistas, ateístas e niilistas, refletindo por conseguinte uma realidade em transformação para melhor é claro, mas que suporta as contingências e efemeridades do tempo, as medidas provisórias da história, as instabilidades das pessoas, e a maneira insustentável de viver e se comportar de grupos e indivíduos variados, diversificados de região por região, obedecendo às definições da consciência e às indeterminações de uma racionalidade bastante vacilante, inconstante e sem chão, característica de uma modernidade tremendamente descartável. Tal ambiente de mentalidades obscuras e de culturas da instabilidade revigoram e nos fazem mergulhar no vazio da existência pois então vivemos a ansiedade por plenitude do ser e de uma vida de abundância no corpo e na alma, na matéria e no espírito. Assim caminhamos no nada espiritual e no vazio de uma existência cercada de transitoriedades e atitudes descartáveis, um universo de realidades contraditórias, de éticas inseguras e espiritualidades fracas, débeis e frágeis. Nesse intervalo de comportamentos instáveis e insustentáveis surge o vazio de uma vida sem fundamentos porém que busca por princípios e valores capazes de bem orientá-la para a existência. É um campo de vida onde as alternativas são obscuras, as oportunidades viáveis e as possibilidades ameaçadas por um contexto de neutralidade que anseia por sufocar os apelos da consciência humana por liberdade em todas as áreas da vivência de todos os dias, noites e madrugadas. Assim se impõe uma vida de vazio à procura de plenitude ontológica e abundância temporal e histórica. Abre-se então pois um mundo de novas e diferentes possibilidades.

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O Nada existe

Hoje de tarde, depois do almoço, seitei-me no sofá da sala de estar do meu apartamento para descansar um pouco e refletir sobre a vida e o trabalho, as pessoas e a sociedade, o movimento das ruas, a confusão dos supermercados e shoppings do bairro, a violência de bandidos e policiais em choque, as balas perdidas voando nas praças e avenidas da Cidade, o silêncio e a natureza dos campos, as boas relações entre as pessoas, minhas paqueras de sempre, minhas namoradas de plantão, o cotidiano carregado de problemas, conflitos e dificuldades, sonhos e realidade, desejos e necessidades, o tempo e a história, e o além na eternidade. Então fiz silêncio, Do meu lado, ouvi passarinhos cantando, os vizinhos brigando, o som das caixas dágua se movimentando, os gritos de crianças brincando e o bate-papo alegre e sábio de velhinhos e aposentados conversando como se estivessem de bem com a vida e em paz com as pessoas em seu entorno. Observei que no fundo do pensamento, na calma da alma e na tranquilidade do espírito, algo insistia em falar, mas que não era ouvido nem percebido, e apesar de ser ignorado tinha voz e queria vez nos ouvidos dos homens e nos olhares românticos das mulheres. Não sei o que era. Era alguma coisa que não conseguia identificar, contudo tinha vida, parecia desejar insistir em viver, existir e se manifestar a alguém. Gritava mas não escutava. Dizia algo mas acho que não dava para ouvir direito suas palavras e mensagem. Foi então que subitamente descobri que não era nada. Ou que era simplesmente o vazio das profundidades do ser e o nada das essências da realidade. Estava dentro do cotidiano, entretanto sua voz conseguia estar apagada, eram negros seus dizeres, ficavam mortas as suas palavras. Quem sabe um cemitério andante investido de velórios constantes e enterros permanentes. Mas não era nada. Sim, o nada existia. Seu manifesto se fez silêncio. No silêncio, acordei para aquela realidade. O Nada existe e é real.

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Hoje, esvaziei-me

Em casa, quando o silêncio tomou conta de mim, ignorei meus instantes na rua ou minha presença junto à família ou minha insistência no trabalho, e ausentei-me de mim mesmo, me esqueci do meu eu, e então ouvi lá fora o barulho dos carros gritando ruídos sem cessar, os passarinhos cantando uma linda melodia de entardecer, as pessoas e os vizinhos conversando como se estivessem em um botequim, as bombas de água do edifício onde moro soltando sons elevados como o rugir dos leões em plena floresta da África Setentrional. Eram 4 horas da tarde. Sentia-me oco por dentro e por fora. O Nada mergulhou em mim de um tal modo que minha consciência parecia não ter fenômenos mentais, meu pensamento estava sem idéias, meus conhecimentos desapareceram simplesmente, e olhei-me e me vi nu dentro do meu quarto de dormir. E olhava para as paredes tentando encontrar uma saída para aquele vazio profundo onde o silêncio vociferava alto e o nada insistia em se apossar de mim. Ali, encontrava-me dentro do oceano de uma existência carente, sem sentido algum, angustiada e triste, sem razões aparentes para se constituir em realidade cotidiana. Não havia significado para aquele momento. Via-me burro. Não entendia nada. As paredes talvez quisessem me falar alguma coisa. Então, pensei em Alguém Superior que pudesse me ajudar a sair daquela situação de crise espiritual, antes que o medo da vida se achegasse a mim, ou a aflição e o desespero se atirassem perante o meu corpo cansado, a minha alma fadigada e a minha mente esgotada de tanto tentar saber o que então estava acontecendo comigo. Estava nu espiritualmente. Surpreendentemente, uma luz interior sacudiu o meu espírito e acordei do meu sono metafísico. Novamente, brilhava a minha inteligência. E foi assim que fugi daquela prisão interna e deixei a escravidão da minha alma. Era Alguém que tocava o meu ser, movia o meu pensamento em lágrimas, e transformava para melhor aquelas circunstâncias indefinidas de realidades indeterminadas. Sai da confusão mental e emocional e outra vez voltei ao meu ego, agora controlador do meu íntimo e dominador das minhas experiências de dentro e de fora. E ao anoitecer lembrei-me de Deus, e em paz adormeceu a minha vida. No vazio, Alguém apareceu. Não sei o seu nome. Mas posso chamá-Lo de luz. Ele iluminou-me naqueles minutos e segundos de terror. O Terror da alma.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Sofística 4

S o f í s t i c a
A A r t e d e F i l o s o f a r

P r e l i m i n a r e s

Tendo como pano de fundo os Professores Protágoras, Górgias e Isócrates, Mestres Sofistas, os primeiros a desenvolver a Sofística nas regiões gregas da Antiguidade, séculos IV e V a.C., buscaremos aqui mostrar e demonstrar como se faz Filosofia, como fundamentar pontos de vista e pensamentos importantes, articular idéias novas e conhecimentos diferentes, sempre apresentando o modo filosófico de construir teorias, palavras e ideologias, a partir do Modelo Sofista, cujo conteúdo servirá de paradigma para a "A Arte de Filosofar". Assim de acordo com o exemplo da Sofística, conjunto de ideologias financiadas por capital, bancadas por reis, governadores e presidentes, de definições incertas e duvidosas, de princípios sem base científica, desvirtuadores do povo e alienadores da realidade, indeterministas até certo ponto e niilistas até demais. Deste modo, mostraremos aqui como se constrói o Filosofar tendo como raizes a Sofística, sua importância no dia a dia, e como é capaz de se tornar a base fundamental de teorias de toda espécie, ideologias diversas e pensamentos variados, que vão interferir nos destinos da sociedade, nos caminhos de comunidades inteiras e na vivência e prática de quase toda a humanidade. Portanto, a partir da Sofística, vamos Filosofar!


1 . A s R e g r a s d o D i s c u r s o

O s g r a n d e s S o f i s t a s e s e u s s e g u i d o r e s c o m o G ó r g i a s , P r o t á g o r a s e I s ó c r a t e s , c o m o t e m p o e s u a p r á t i c a r e t ó r i c a d e s e n v o l v e r a m a s p r i n c i p a i s r e g r a s d o d i s c u r s o f e i t o c o m p e r s u a s ã o , i n t e n ç õ e s n e m s e m p r e b e m d e f i n i d a s e i n t e r e s s e s t a l v e z m a l r e s o l v i d o s , p o i s l u c r a v a m c o m s e u c o m é r c i o d e i d é i a s e i n t e r c â m b i o d e p a l a v r a s , a p e l a n d o p a r a u m a a r g u m e n t a ç ã o q u e m s a b e c h e i a d e e r r o s e f a l t a s , m a s q u e p o s s u i a m a s a b e d o r i a d e q u e m f a l a v a e m p ú b l i c o , d i s c u r s a v a c o m a p r u d e n t e a r t i c u l a ç ã o d a s l e t r a s , i m p u n h a m c a t e g o r i a s d e p e n s a m e n t o q u e f a z i a m d e s e u s p o n t o s d e v i s t a p e s s o a i s d i g n o s d e c r é d i t o p o r p a r t e d o p o v o , d e c o n f i a n ç a q u a s e a b s o l u t a e d e f é q u a s e q u e n e c e s s á r i a , a i n d a q u e a s e r v i ç o d e g o v e r n o s e l í d e r e s , q u e l h e s p a g a v a m p o r s u i a i n d ú s t r i a d e s a b i d a s i d e o l o g i a s e p o s s i v e l m e n t e s á b i a s t e o r i a s , d e p r i n c í p i o s r e l a t i v o s e d e v a l o r e s d e s c a r t á v e i s . E m b o r a c o n f i á v e i s a p a r e n t e m e n t e m a n t i n h a m l e i s d o d i s c u r s o q u e o t o r n a v a m a p t o a s e r a b s t r a i d o p e l o s o u v i n t e s e a p r e e n d i d o p o r s e u s i n t e r l o c u t o r e s . N o r m a s c o m o a r e l a t i v i d a d e d a s i d é i a s , o i n d e t e r m i n i s m o d a s p a l a v r a s e o n i i l i s m o d a s l e t r a s a s s i m c o m o o c e t i c i s m o d e s u a s a b o r d a g e n s c r e s c e r a m n o m e i o p o p u l a r e f i l o s ó f i c o c o m o f u n d a m e n t o s d e s c a r t á v e i s s e m c h ã o n e m t e t o s e m p o r t a s n e m j a n e l a s c o n s t r u i n d o u m a r e t ó r i c a c u j a r a c i o n a l i d a d e f a z i a a a p o l o g i a d o s i n t e r e s s e s e m j o g o t o d a v i a r e v e l a d o r e s d e u m a l ó g i c a d i s c u r s i v a b a s t a n t e c o n f i á v e l . A s s i m e r a m o s S o f i s t a s , a r t i c u l a d o r e s d a S o f í s t i c a , a C i ê n c i a d a L ó g i c a r e l a t i v i s t a o n d e a s p a l a v r a s s ã o i n c e r t a s e a s i d é i a s d u v i d o s a s , p o r é m c r e d i t a n d o f é e c o n f i a n ç a p a r a s e u s A u t o r e s . N a s c i a a s s i m a I d e o l o g i a d a I n s e g u r a n ç a p e s s o a l , t a l o o b j e t i v o d e s s e g r u p o d e m e s t r e s s o f í s t i c o s .

2. Uma Lógica insegura

O Filosofar é uma maneira de ser e de viver das pessoas, um modo de se comportar a partir de uma ideologia de vida fundamentada em princípios firmes e sólidos e em valores geralmente estáveis e permanentes, absolutos e necessários, um estilo de pensar e existir no cotidiano segundo regras de uma racionalidade cujas raizes são o indeterminismo dos acontecimentos, o lado cético de conceber a realidade, o modelo niilista de tratar indivíduos e parceiros de estrada e companheiros de caminhada, o tipo de vivência onde a instabilidade das palavras e a inconstância das idéias tornam a existência descartável, o que confere à filosofia de vida e seu jeito novo e diferente de viver uma articulação de pensamentos leves, de letras macias, de palavras doces e idéias suaves, pois o filosofar deve ser manso e equilibrado, bastante sensato, seguindo as raizes de um pensar transformado em canal de saúde e bem-estar para quem faz dele sua norma de vida, o sentido do seu cotidiano e o significado mais fundo e profundo de seu encontro com a realidade de cada dia, noite e madrugada. É o que faziam os mestres sofistas e seus seguidores. Porque da Sofística pode-se apreender o verdadeiro filosofar, abstrair dela as técnicas de persuasão, as regras do discurso, os fundamentos da argumentação bem feita e os princípios de uma retórica cujas raizes são a racionalidade e sua relação com a realidade cotidiana, de onde se constrói o autêntico filosofar de todos os dias, e de cada hora, minuto e segundo. Sim, os Sofistas nos ensinaram a filosofia fácil, a linguagem do povo, o modo correto de interpretar os fenômenos do dia a dia. Assim se constitui a filosofia original propriamente dita, a filosofia pura, em que seu discurso é brando e manso, suave como a música dos passarinhos, leve como as borboletas dos campos, doce como o sonho da padaria e macio como o perfume das rosas vermelhas da primavera. Eis o filosofar verdadeiro. Sua transparência vem da Sofística. Dela nasce a boa interpretação insofismável ainda que a tradição filosófica erroneamente atribua aos Sofistas uma falta de ética e espiritualidade que possuiam a tendência de corromper seus discursos. Os Sofistas, ao contrário, os verdadeiros filósofos.

3. A Instabilidade da Argumentação

A História da Filosofia Ocidental e Oriental tem nos ensinado, a partir dos Sofistas e seus alunos, discípulos e seguidores espalhados pelo mundo afora, certamente, que se precisamos para filosofar de princípios estáveis e valores permanentes sustentadores do discurso filosófico igualmente esse trabalho processual de produzir filosofia se faz por meio de retóricas inseguras e indefinidas, de argumentos sem chão e sem fundamento algum, de raciocínios céticos e indeterminados, de oratórias niilistas e vazias, frágeis e vacilantes, de uma lógica descartável onde as idéias pulam e gritam por um discurso polivalente, de múltiplas funções transitórias, de palavras provisórias e teorias e ideologias cujos princípios, fontes e raizes são a relatividade das coisas, a indeterminação dos fatos cotidianos e o vazio dos dizeres sem bases psicológicas e sem sustentação segura ainda que suas raizes sejam absolutas e seu mundo sustentador seja tranquilo e estável porque trabalha com pensamentos necessários, categorias eternas e uma logística de origem bem consolidada com o tempo e espaço filosóficos. Daí a instabilidade da persuasão sofista gerando conferências duvidosas e inseguras e incertas todavia que refletem o modo de fazer filosofia ontem e hoje. Tal o estilo criativo de desenvolver a atividade filosófica. Esse o jeito dos filósofos filosofarem. De fato, a Sofística nos faz abstrair dela o verdadeiro discurso da lógica e hermenêutica filosóficas. Assim podemos filosofar com facilidade, naturalidade e tranquilidade. Grande Protágoras de Abdera cuja Antropologia Social deu à humanidade o entendimento da natureza humana e a compreensão de seus limites psicossociais, fronteiras ambientais, outras maneiras de aceitar os homens e mulheres e seus problemas, conflitos e dificuldades. A Sofística fez o homem ressurgir.

4. Uma Retórica sem fundamentos

Sofistas como Pródico, Protágoras de Abdera, Antifonte, Trasímaco, Górgias, Hípias, Isócrates e Crítias, de cultura relevante e polivalente, de mentalidade aberta, bastante renovada e liberta de preconceitos o quanto possível, que ignorava superstições religiosas e culturais, fugiam da violência local e regional, circulavam pelas cidades com grande fama de persuadores, gente argumentadora de bons conteúdos filosóficos, profissionais liberais, os primeiros advogados da história da Grécia Antiga, mestres da retórica inteligente, pedagogos surpreendentes e educadores de primeira, gigantes como professores ambulantes, enfim, os produtores de um modo de filosofar original, construíam o saber de modo surpreendente, inovando nas articulações de idéias e palavras, em uma atitude em que sua ética não possuía fundamentos seguros, tranqüilos e estáveis, todavia se firmava em um comportamento indeterminista e cético, incerto e duvidoso, onde o vazio das teorias defendidas e o nada de seus pontos de vista advogados pareciam carecer de uma ideologia substancial embora seus discursos se misturavam com os conhecimentos dos pré-socráticos e de Sócrates, mais tarde Platão e Aristóteles, e ainda os teóricos da filosofia oriental de povos antigos como o Egito e a Mesopotâmia, a Fenícia e os Hebreus, os Caldeus e os Babilônios, e outras nações da época, por volta dos séculos III, IV e V a.C. Como observamos, os Sofistas trabalhavam não só por interesse ou distração, mas igualmente por uma certa vocação para o filosofar, e com isso ganhavam dinheiro para suas necessidades, adquiriam créditos sem fim junto a governos e autoridades, sendo financiados por gente grande e gigante perante essas regiões circunvizinhas. Assim eram os Sofistas. Deste modo surgiu a Sofística e esse seu jeito novo e diferente de filosofar. Desde então, filosofia é algo fácil, leve e natural, cujas idéias e pensamentos brotam de maneira criativa e original, zelando pelo bom conteúdo filosófico, ainda que liberal na sua exposição, inovador na sua produtividade, diferente na sua abordagem e fundamental na sua fidelidade aos jeito lógico e coerente de os filósofos trabalharem a própria filosofia. Criou-se então a Sofística. Creio eu, o verdadeiro e autêntico filosofar, baseado em princípios fortes e valores firmes porém soltos pelo ar, livres pra voar, inocentes sustentadores das indefinições e indeterminações da racionalidade. Tal o modo transparente de fazer e produzir filosofia.

5. A Dúvida construtora do Pensamento

Quem sabe a dúvida e a incerteza não foram artifícios sofistas em busca de uma melhor estratégia de discurso, persuadindo seus ouvintes e interlocutores sobre as matérias discutidas, argumentando em favor dos interesses de quem lhes pagavam bem para falar em público. Assim os mestres da Sofística construiam um pensamento certo e original e criativo, de conteúdo alegre e festivo, de retórica inteligente e bem distribuida, inovando na conquista do seu povo, trazendo-o para as intencionalidades mais obscuras, tendencialmente não transparentes, mas que talvez fossem verdadeiras no seu ponto de vista e autênticas na sua visão da realidade. Em suas viagens e movimentos permanentes, os professores indeterministas criavam interpretações diversas e adversas, diferentes e contrárias, sobre os variados assuntos e temas do dia a dia, de acordo com as razões da sua clientela e freguesia, que lhes creditavam não só dinheiro ou capital todavia inúmeros favores e grandes benefícios em prol da realização de suas metas e objetivos e satisfação de seus anseios, desejos e necessidades, aspirações que os Sofistas gostavam de dispor na consecução de seus resultados de opiniões bem geridas e argumentos bem colocados. Deste modo, os pensamentos se geravam, a defesa de seus clientes se operava, e sua advocacia se exercia com autoridade, competência e legitimidade, pois os docentes da Sofística tinham a idoneidade, a capacidade e a funcionalidade de que gozavam os filósofos da época sobretudo Sócrates, Platão e Aristóteles. Com Protágoras de Abdera, os Sofistas passaram a ser bem remunerados.

6. O Saber Indeterminável

Qualidades, virtudes e bons sentimentos e atitudes não faltavam nos mestres da Sofística, que, em Pródico, se refletiam na sua criatividade e originalidade de argumentos; em Hípias, a solidez do discurso e a variabilidade de idéias e conhecimentos; em Górgias, a coerência lógica e a persuasão dialética; em Antifonte, a firmeza dos pensamentos junto com o seu poder cético de misturar teorias e desenvolver ideologias diversas e adversas; em Isócrates, a beleza das formas e a riqueza de conteúdo; em Tamasico, a construção positiva e o otimismo de uma retórica feita de diferenças e contrários; em Crítias, a evolução das palavras bem articuladas; e enfim em Protágoras de Abdera, a experiência do bom comportamento capaz de gerar pensamentos que valiam grandes somas de capital. Assim, os Professores Sofistas ganhavam fama nas cidades por onde passavam, fazendo progredir a cultura das regiões, movimentando a economia ainda instável e fortalecendo a política de grupos e comunidades interessados em poder e imagem junto a seu povo. Cresciam então as atividades comerciais, o artesanato e a música, as artes marciais e a luta livre, o culto religioso e a moral descartável. Nesse mundo rico de mentalidades plurais, sobressaia a docência sofista, desenvolvendo pois um novo e diferente estilo de filosofar, feito com um jeito outro de abordar as matérias filosóficas sobretudo enfatizando os fenômenos da realidade cotidiana, como por exemplo a política urbana e rural, a vida social, as relações comerciais, o trabalho de cada dia, a vivência familiar, o pagamento de taxas e impostos, a circulação da moeda e do dinheiro, os debates em praça pública, o intercâmbio de opiniões, pontos de vista e bate-papos nas esquinas das cidades; o troca-troca de idéias e pensamentos e outras coisas mais. . Desta maneira, progredia a vida dos cidadãos de Atenas e afins. Seus discursos não tinham uma determinação rígida, austera e rigorosa. Ao contrário, tudo era indeterminável.

7. O Complexo das questões indefiníveis

A Arte da Sofística ao nos ensinar os fundamentos do verdadeiro filosofar nos mostrou que a filosofia é feita dentro da realidade cotidiana embora seus temas e assuntos predominantes também se façam fora dela nas categorias do ser, do existir e do pensar, nas instâncias dos sentimentos mais profundos e das experiências éticas e espirituais mais fecundas, nas realidades da vida de cada instante e na sociedade em que estamos inseridos em suas esferas política e econômica, social e cultural. Deste modo, nos ofereceu os princípios de um filosofar estável e criativo, tranquilo e polivalente, consolidado com o tempo e seguro em suas abordagens diversas, em suas interpretações céticas e niilistas, em sua visão da realidade bastante indeterminista de indefinições constantes e de instabilidades permanentes, porém sustentadas por uma riqueza de conteúdo onde sobressaem a liberdade de expressão, a universalidade de idéias, a relatividade do discurso, um jogo de palavras indefinível, sujeito às regras da indeterminação, construido com a desconstrução da violência dos conceitos e a agressividade das definições, um processo de criação em que os Sofistas acreditavam na beleza das letras, na riqueza do conteúdo e na grandeza da arte filosófica, para isso empreendendo trabalhos, esforços e empenhos em gerar um estilo de filosofar muito aberto, renovador de argumentos e liberto das tiranias dos preconceitos e das atitudes supersticiosas complicadoras do discurso enquanto tal. Com efeito, surgiu um novo modo de abordar a filosofia com pensamentos livres e soltos, idéias criativas e originais, argumentos sólidos, firmes e fortes, e uma ação persuasiva bem fundamentada, dirigida por valores constantes e regras estáveis mesmo que garantindo o desenvolver da relatividade do discurso, do ceticismo das idéias, do niilismo das palavras e do indeterminismo das questões e respostas levantadas. Nasceu pois um filosofar novo e diferente, belo como a arte, simples como a filosofia, e rico como os conteúdos desenvolvidos. É a arte de filosofar com a simplicidade de palavras baseadas no discurso de um filosofar característico dos grandes mestres da Sofística como Protágoras de Abdera, Górgias, Pródico, Hípias e Isócrates.

8. Nadar no Vazio das Idéias e das palavras

Se pudéssemos definir a Sofística, o que diríamos ? É a Arte da persuasão e do convencimento sob argumentos vazios e nadantes, de idéias vacilantes e palavras instáveis, descartáveis e insustentáveis, onde o discurso é transitório sem fundamentos permanentes, de retórica solta no ar e livre para voar, liberta das amarras de princípios absolutos e de valores necessários, permanecendo como que uma viagem das letras que mergulha no oceano das palavras sem chão nem teto sem portas nem janelas, livre para defender os interesses em jogo e advogar as intencionalidades mais obscuras em troca de dinheiro ou de créditos diversos e plurais, garantidores das necessidades e anseios de quem trabalha com a argumentação dos pensamentos. Assim , os Sofistas circulavam pelas regiões gregas e circunvizinhas desenvolvendo um outro jeito de filosofar, um novo modo de abordar a filosofia, uma diferente maneira de fazer conteúdos filosóficos. Dizem os especialistas, que se trata do verdadeiro filosofar, de princípios orientadores da boa argumentação de idéias conectadas entre si e articuladas de tal modo que possam cumprir seus objetivos de defender não a verdade mas os interesses de seus credores financeiros, autoridades e governos constituidos, como o pagamento de impostos por exemplo. Era o Reino dos Sofistas entre nós.

9. A Linguagem personalizada

A Grandeza da Sofística e o que de bom mais a caracteriza é a sua capacidade de personalizar as palavras, individualizar a linguagem, oferecer um caráter pessoal aos argumentos expostos, aos discursos empreendidos e às idéias criadas com a originalidade dos pensamentos muitas vezes sem conteúdo e sem fundamento algum, todavia que tem na beleza da forma como se faz filosofia e na sua riiqueza de expressão a chave de um filosofar autêntico cuja transparência é a verdade das letras livres definidas pela sua indefinição linguística. Deste modo, surgem as idéias, os conhecimentos se fazem e as palavras se constroem com a sabedoria de quem transforma a liberdade da argumentação em segredo para o bom sucesso da retórica metamorfoseada pela criatividade do filósofo. Assim as palavras brotam com fecundidade fazendo germinar o verdadeiro sentido do filosofar propriamente dito. Então, a filosofia se faz arte, a arte da argumentação bem feita de princípios sólidos, fundos e fortes. Sua firmeza convive com o lado descartável das palavras e a transitoriedade das letras. Assim se constrói um filosofar novo e diferente.

10. Vivemos de pontos de vista

Um dos aspectos positivos da Sofística é a viabilidade de desenvolver pontos de vista diferentes, criando-se argumentos originais de idéias interativas e palavras que compartilham conteúdos ricos de repertório cultural, possibilitando o intercâmbio de pensamentos, que se relacionam produzindo cabeças boas interligadas por visões da realidade de excelente matéria filosofática. Foi o que fizeram os Sofistas, articuladores de pontos de vista, de onde surgiam ideologias novas e teorias diferentes, convergentes e concordantes ainda que tendencialmente contrárias umas às outras. No entanto, os professores Górgias e Protágoras de Abdera possuiam a arte de filosofar com originalidade e criatividade, fazendo da liberdade o caminho de produção de idéias interativas e de um jogo de palavras convergentes entre si. Deste modo, o povo era convencidso de suas intencionalidades defensoras dos interesses de grupos e autoridades que lhes pagavam um bom capital para que eles argumentassem em favor de seus governos. Com isso, ganhavam fama e crédito junto ao povo e aos poderes constituidos. Os Sofistas eram mestres da persuasão positiva embora a mentira e o ceticismo muitas vezes tomassem conta de suas retóricas descartáveis, inseguras e inconstantes. Contudo, sua busca por uma argumentação sadia contagiou a tantos, que abraçaram esse jeito novo de fazer filosofia. Filosofavam livremente. Daí a crítica de Sócrates, Platão e Aristótelews e outros especialistas da arte de filosofar.

11. Visões da realidade diferentes e até contrárias

Entre os mestres sofistas o jeito de argumentar variava, o modo de discursar era diverso e adverso e a maneira de persuadir era diferente e até contrária umas às outras, fazendo de cada sofista um verdadeiro criador de argumentos, inventor de uma lógica incomparável, produtor de uma retórica bem articulada e elaborada, de literatura distribuida, de conteúdo interativo, que convencia as multidões, deixadas se levar por palavras aparentemente confiáveis, de crédito duvidoso, de fé insegura, mas que serviam para garantir os interesses das autoridades e governos constituidos, apologia essa que guardava as boas ou más intenções dos mais poderosos. Deste modo, idéias valiam grandes somas de capital, discursos eram de moeda grande, e suas orientações e advocacias sustentavam os desejos e necessidades desses professores da Sofística. Filosofavam sim com gigantesca sabedoria, faziam arte com as letras, enriqueciam seus discursos com pensamentos criativos e originais, garantidores da boa persuasão e da excelente argumentação. Sua verdade era as idéias bem produzidas e as palavras bem articuladas. Sua preocupação era com o convencimento do povo não se importando com o erro ou acerto do discurso e das palavras empreendidas. Queriam sim seu objetivo: convencer as sociedades dos interesses do rei. E não é que conseguiam!

12. Interpretar da minha maneira

Um dos caracteres fundamentais para a compreensão e entendimento da cultura e mentalidade dos Sofistas é sem dúvida a sua capacidade e vocação para interpretar a realidade cotidiana e assim defender os interesses de seus financiadores e fazer a apologia de suas intencionalidades obscuras mas que tornavam os professores da Sofística campeões de audiência pública, famosos por suas persuasões bem articuladas e suas argumentações muito sofisticadas, o que os transformava em mestres da retórica convincente, que fazia a cabeça das multidões, monitorava sua consciência em dúvida e carregava de incertezas sua inteligência aparentemente boba e explorada pelos argumentos nem sempre bem intencionados dos docentes sofistas, que deste modo ganhavam mais seguidores, adeptos e simpatizantes de sua filosofia descartável, de ideologia vagante, efêmera e inconstante, de teoria transitória e sem sustentabilidade, de letras voadoras e que viviam sem bases fundamentais onde a linguagem tinha como princípios a abordagem instável e uma linguística sem raizes permanentes, já que então, naquele período da história grega antiga, séculos IV e V a.C., tudo era sem chão nem janelas, sem portas nem teto, discursos feitos de surpresa, improvisados, e eis que de repente surgiam as idéias, os pensamentos voavam libertados por uma inteligência criadora de conteúdos originais, polivalentes e multifuncionais. Assim se desenvolvia a Sofística, a Arte de Filosofar.

13. Superar desvios e aberrações

Talvez o grande pecado dos mestres sofistas foi o de não levar um comportamento ético adequado e desenvolver atividades de boa índole material e espiritual, preferindo quem sabe alternativas como o desvio de atitudes, a aberração de princípios e valores, o compromisso mais com o capital do que com a saúde mental e emocional, a preferência por ações desviantes como defender os interesses de governadores fazendo a cabeça do povo, advogar idéias e pensamentos descartáveis abraçando uma lógica sem sustentabilidade psicológica e social, o que os tornava embora “amigos da gente” pessoas sem interesse pela boa compostura e sem a opção de buscar um bem-estar moral e religioso que fosse satisfatório, saudável e agradável. Por isso mesmo, ainda que “os preferidos das populações visitadas” possuissem uma conduta duvidosa, algo que os identificava como indivíduos interesseiros sem uma desenvoltura social e coletiva, abstraindo suas operações de pontos de vista pessoais e visões da realidade onde o personalismo e a individuação sobressaiam mais que as intencionalidades públicas, mesmo que lutassem por ideais que não eram os seus. Faltou-lhes entretanto esse lado ético saudável e uma espiritualidade agradável que os transformassem em gente transparente, identificadas com a verdade de suas argumentações e a autenticidade de suas persuasões, ainda que sua retórica por diversas vezes advogasse a mentira, os distúrbios de caráter e as alterações de personalidade, já que sua defesa de aumento de impostos e elevação de taxas e salários de funcionários custassem sim sua boa condição ética e sua força moral diante das autoridades, financiadoras de sua profissão discursiva. Mesmo que o erro e a falta os perseguissem em suas viagens e locomoções pareciam pessoas bem intencionadas até verdadeiras pode ser. Gosto dos Sofistas como cidadãos que trabalhavam para a boa filosofia embora seus discursos por muitas vezes mantivessem a má estrutura de ação de seus comportamentos céticos, niilistas e relativistas, e igualmente indeterministas. Sim, estou com os Sofistas. Aprecio sua conduta amante da boa prática filosófica.

14. Ultrapassar limites e fronteiras

Criar idéias e desenvolver pensamentos, articulando argumentos e produzindo uma persuasão lógica, fazer brotar a filosofia com fundamentos nem sempre seguros e tranquilos, talvez seja uma das vias de possibilidade da Sofística, que ao formalizar a retórica e defender interesses alheios, advogar intencionalidades obscuras e lucrar com o financiamento de capitais elevados, define como pode ser o filosofar original e criativo onde os conhecimentos são ricos de conteúdo e sua articulação lógica e ontológica parece transformar a consciência pensante, cognoscente e discernente, em canal de criações de palavras em que as idéias surgem com liberdade, criatividade e universalidade, tornando a apologia aprovada pela mente popular e abraçada por gentes de todos os tipos, recebendo os mestres sofistas, como Protágora de Abdera e Górgias, em suas andanças, viagens e locomoções pelas regiões da Grécia Antiga, determinando ideais relativistas e sonhos niilistas, imaginações céticas e teorias indeterministas, colorindo com a beleza das formas e a grandeza dos discursos, a riqueza da matéria filosófica propriamente dita. Deste modo, se superavam as fronteiras da inteligência e se transcendiam os limites da racionalidade, ultrapassando então as definições linguísticas e as determinações da linguagem. Então, o filosofar se tornava arte e a filosofia uma ciência com caracteres universais e necessários. Era a Sofística que crescia no meio do povo, que aprovava sua intervenção filosófica nos assuntos , temas e realidades do dia a dia. A Sofística então fez-se bela.

15. Transcender a falta de ética

16. Os Argumentos, um bom capital

Para os Sofistas do século IV a.C. em pleno regime pré-Pólis da constituição das Cidades Gregas como Atenas e suas circunvizinhas, as palavras valiam dinheiro e o grande capital era a medida de uma ótima defesa e apologia quando se defendiam os interesses de autoridades e governos fazendo-se uma gigantesca argumentação muitas vezes sem fundamento algum, sem princípios sustentáveis e sem raizes na própria filosofia comumente dita. Sua retórica era vazia e nadante, seus argumentos livres para "inventar" letras e discursos radicalmente inseguros, intranquilos e sem garantia alguma de base ideológica. A Sofística se desenvolvia por meio de grandes moedas, capitais e dinheiro que seguravam as idas e vindas desses Professores da Ginástica Sofística de idéias perambulantes e de teorias em movimento, articuladoras da apologia e da defesa de governos constituidos, autoridades competentes e empresários ricos capazes de oferecer garantias financeiras a esses mestres argumentadores que recebiam uma boa "grana" para advogar o aumento de impostos das Cidades, a elevação necessária do salário dos funcionários públicos, a cobrança de altas compensações econômicas pelos serviços oferecidos pelas Prefeituras e o incremento de obras financiadas pelo dinheiro dos mais poderosos. Assim, a Sofística concebia os argumentos como grandes mercadorias de troca quando então faziam intercâmbios de cultura com moedas de alto valor financeiro. Sim, a cultura e os conhecimentos valiam dinheiro. E deste modo os docentes da Sofística lucravam grandes capitais para a satisfação de seus desejos e a realização de suas necessidades. Assim cresceu esse novo modo de fazer filosofia. De letras livres, de palavras sem compromisso e de idéias mobilizantes. Eles mobilizavam as sociedades gregas.

17. Filosofia, uma Arte

Filosofia e Arte se encontram na Sofística. Nela, os Sofistas, artistas e filósofos, fazem um jeito novo e diferente de abordar o discurso dos amigos da sabedoria, carregando-o da liberdade de expressão, da leveza e maciez das palavras, da doçura das idéias e pensamentos, da suavidade de conteúdos ricos de um conhecimento plural e variável onde o tempo e o espaço cedem seus lugares para que a arte do filósofo se desenvolva em meio ao ceticismo de alguns, o relativismo de outros, o niilismo de tantos e o indeterminismo de alguns poucos. Parece que os professores Górgias e Isócrates, Protágora de Abdera, Pródico e Hípias, Tamasico e Crítias, e Antifonte, inventam a lógica da argumentação, produzem uma retorica descartável, sem princípios nem fundamentos, sem raizes nem bases científicas, ignorando a estabilidade da persuasão que se transforma na transitoriedade das letras e na instabilidade da linguagem, sustentadas por valores filosóficos como a universalidade, a criatividade, a liberdade, a originalidade, a particularidade, a singularidade, a simplicidade, a luminosidade, a abertura, a novidade, a riqueza de conteúdo, a excelência de virtudes, a beleza das formas, a grandeza do discurso, a segurança da argumentação, a tranquilidade da retórica, o repouso da persuasão, o movimento das idéias, a articulação lógica das palavras, letras inflamadas de pensamentos quentes soltos pelo ar e livres para voar. Assim era a Sofística. Hoje, a filosofia que se transforma em arte. A Arte do Discurso. Arte e Filosofia se encontram.

ANEXO – A

O “Ápeiron” de Anaximandro de Mileto e a Sofística de Protágoras de Abdera – Interações Positivas

Os séculos IV, V e VI a.C. refletem para nós um contexto filosófico e social onde os Sofistas como Protágoras de Abdera e Górgias discutiam com os pré-socráticos e Sócrates a possibilidade da verdade e do conhecimento, tendo a Sofística original posto em dúvida essa viabilidade enquanto que os primeiros filósofos defendiam a transparência do saber feito com autenticidade onde a verdade do ONTÓS caminhava de braços dados com a verdade do LOGOS. Entre eles, Anaximandro, discípulo de Tales, propunha o Princípio Indeterminado, o “ÁPEIRON” que, mais tarde, fez com que alguns mestres de lógica e metafísica, relacionassem esse Princípio Indefinível com a atividade sofista, pois em seus discursos itinerantes, argumentações vazias e sem fundamento e retóricas transitórias e duvidosas, os Sofistas pressupunham o Indeterminismo, o “ÁPEIRON”, como fonte de suas oratórias nadantes e de seus pensamentos céticos e niilistas, talvez assim os tornassem creditáveis perante o público, de confiança diante dos Chefes de Estado e de fé popular, transformando-se então em advogados da persuasão, criadores de idéias e produtores de palavras tontas, vacilantes e sem raizes sustentáveis. Abraçando o “ÁPEIRON”, os Sofistas desenvolveram com seu teórico principal, Protágoras, toda uma Antropologia Social que segundo o mestre faz do “homem, a medida de todas as coisas”. Tal falar inconstante e instável de oratórias infundadas e passageiras fez da Sofística a base do verdadeiro Filosofar, constituindo-se posteriormente os bons princípios e valores da consciência humana, estáveis e seguros, tranquilos e absolutos, orientadores da conduta humana por toda a presente e futura jornada da humanidade. Tal a relação interativa entre o “ÁPEIRON” e a SOFÍSTICA.

ANEXO – B

A Sofística, uma realidade cotidiana atual

No meio dos estudantes universitários, na luta e discussão de partidos políticos, nas políticas públicas de Prefeituras e Órgãos do Governo, nos Simpósios e Conferências de Empresas e Faculdades, nas salas de aula do Estado e Município, na apologia de interesses de grupos governamentais, na defesa de intencionalidades de líderes e dirigentes de ONGs, enfim, onde haja um discurso a fazer, um direito por combater, um dever a cumprir, algo a ganhar, um crédito a considerar, a presença da atividade sofista se vê insistente. Na hora do discurso ou da argumentação persuasiva, põem-se idéias, teorias e ideologias como ferramentas de retórica a lucrar com a manipulação das consciências alheias, o manuseio das cabeças inocentes, a exploração da irracionalidade dos argumentos, a incerteza das “verdades” postas para todos, as dúvidas nas palavras debatidas, o vazio das oratórias sem fundamento, céticas e niilistas, transitórias e inconstantes, relativas e indefinidas, nadantes e indeterminadas, sempre com o objetivo de enganar o povo, ou obter créditos ao fazer a cabeça das pessoas. De fato, a Sofística é real e atual. Está presente nas escolas e universidades, na política e nas empresas, nos governos e prefeituras, como por exemplo a tentativa de aumentar impostos, elevar taxas sociais e produzir leis e regras de conduta que quem sabe alienam a sociedade dos verdadeiros interesses em jogo. Nem de boas intenções vivem os cidadãos. Aberrações e corrupções estão por toda parte. Pessoas são pagas para convencer multidões e persuadir grupos e indivíduos a fim de sustentar intenções obscuras, aberrantes e alienantes. Sim, a Sofística é uma realidade hoje.

ANEXO – C

O Pensamento descartável

Os Professores Sofistas e seus discípulos, desde a Antiga Grécia até nossos dias atuais, em suas andanças e viagens, peregrinações e locomoções, propunham um discurso itinerante quando defendiam os interesses de governos e altas autoridades das regiões visitadas, palavras descartáveis e idéias transitórias, uma oratória sem raizes ideológicas, argumentos sem premissas e conclusões, um raciocínio sem fundo de letras vacilantes, inseguras e incertas, uma retórica duvidosa e não científica, pois cruzavam os caminhos produzindo ideologias inventadas na hora, sem preparo programático, sem planejamento preciso, ignorando a lógica fundamental necessária para uma conferência de princípios estáveis e valores permanentes. Ao contrário, seus dizeres eram sem normas e fontes concisas, palavriados soltos e feitos de surpresa, sem preparo algum mas construidos de uma ora para outra, sem avisos pré-fabricados ou planos de futuro não consolidados. Deste modo, surgiu uma atividade filosófica gerada com o tempo e o exercício teórico e doutrinal de Protágoras e Górgias principalmente, articulando-se assim então o verdadeiro filosofar de diretrizes indefiniveis e orientações indeterminadas. Hoje, fazer filosofia é buscar essa estrada do ceticismo ambulante, do indeterminismo processual e do niilismo mobilizador de letras, idéias e palavras sem fundamento algum, todavia constituidores do pensar leve, da interpretação fácil, da visão da realidade construida com inconstância e instabilidade, porém produtores de princípios e valores mais tarde seguros, tranquilos e permanentes, o que caracteriza bem a arte de filosofar. Portanto, esse pensamento descartável sustentado por raizes fundas, fecundas e profundas é propriamente a maneira correta de transformar-se idéias e conhecimentos em teorias e práticas filosóficas. Tal o filosofar de nossa realidade moderna.

ANEXO – D

A Insofismática e a Sofística

Longe de ser um apelo ao erro, a Sofística é a Arte do Discurso e da Persuasão enquanto tal, de conteúdos ricos e de argumentos bem articulados, enquanto que a Insofismática é a Ciência que busca os fundamentos da verdade e do conhecimento em geral zelando para que a transparência das idéias e das palavras comungue com a experiência de autenticidade da realidade cotidiana. Ambas se aproximam pela logicidade filosófica e se distanciam porque a Ciência Insofismática enfatiza o apelo à verdade e a Sofística cuida da essência da argumentação sem compromisso necessário com a constituição e efeitos da verdade. A primeira pede a autêntica mostragem e demonstração da verdade, já a segunda permanece fiel à arte da persuasão dispensando o indispensável, que seria abraçar de todas as maneiras a responsabilidade de fazer da verdade a lei do discurso. A Sofística é mais arte que filosofia, visto que a Insofismática é mais ética do que ciência. Ambas caminham juntas porém se separam quanto à possibilidade da verdade, ficando os Sofistas apegados às normas com liberdade da substância da retórica, o que viabiliza a ação dos Insofismáticos que se engajam na defesa e apologia da verdade lógica e ontológica, ética e social. São convergentes mas tendem à discordância.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A Escola dos Sofistas

A Escola dos Sofistas

1. Caracteres gerais

No período pré-socrático da Antiguidade Grega(séc.VI a.C.), surgiram os Sofistas, pessoas contratadas por reis e imperadores da época para, por meio da retórica e da argumentação, defenderem os interesses do império e da monarquia, para essa finalidade recebendo grandes volumes de moeda(dinheiro), não importando então a verdade ou a mentira de suas palavras, ou a lógica de seus raciocínios, já que o que interessava era garantir a vitória dos reinados e dos imperialismos ainda que se tivesse que falsificar os argumentos, corromper a verdade, elevar o erro e a mentira, sujar as idéias de seus adversários, ou manchar os ideais de seus inimigos.
Assim nasceu os Sofismas(argumentos cheios de erros com obscuras intenções, muitas vezes com maldade nas palavras, com o objetivo certo de advogar ou defender os interesses das principais autoridades das Cidades gregas e suas circunvizinhas).
Logo, como se observa, a palavra sofisma, a partir daquela data, passou a significar erro, falta, mentira, raciocínio aberrante, argumentação falsa, retórica mentirosa, palavra que contrariava o sentido da verdade.
Ao mesmo tempo, veio ao mundo o movimento filosófico contrário aos sofismas e antítese dos sofistas chamado de Insofismático cujo significado manifestava o interesse de defender a verdade do ser, do pensar e do existir, garantir as certezas relativas e absolutas, dar autenticidade às nossas idéias e conhecimentos, discursos e retóricas, raciocínios e argumentações.
O Processo Insofismático deseja pois ser um advogado da verdade, defender suas boas intenções e seus bons interesses, lutar a favor dos bons conhecimentos produzidos, favorecer as boas idéias e os bons ideais, autenticar enfim nossas palavras retas, certas e corretas.
Eis a origem da Insofismática.

2. Os Mercenários do Saber

Por vaidade e por dinheiro, os Sofistas – inimigos da verdade – como Plotino de Atenas, Prometeu filho de Orfeu, Genuino da Escola da Paidéia, Protótipus de Eléia, Orígenes de Mileto e Zaratrustra da linha de Xenofontes, comerciavam as suas idéias, trocavam-nas por privilégios e mordomias junto aos governantes e administradores das Cidades, faziam de seus pontos de vista mercadorias de câmbio quando vendiam e se vendiam para obter lucros e favores, créditos e benefícios perante as autoridades constituidas. Transformavam seu saber em moeda de troca, uma mercadoria mesmo, a partir de que ocupavam os primeiros lugares nas reuniões e assembléias, disputando cargos e funções públicas com jovens e velhos interessados em trabalho ou alguma atividade condigna com sua personalidade e caráter. Desse mundo de privilégios apenas os Sofistas gozavam, além dos gestores e gerentes das instituições sociais e coletivas, como escolas e clínicas de saúde, o Parlamento ou designações de chefia, e as funções civis e militares. Não eram para alguns filósofos pois corrompiam a racionalidade em função de bens financeiros e propridades públicas. Eram aberrantes. Desviavam as pessoas do caminho da transparência, faltavam com a verdade e se tornavam adversários de uma vida de autenticidade. Seus sofismas eram argumentações falsas e mentirosas, ou retóricas de intenções obscuras, ou discursos presenciais de improviso visando garantir uma boa remuneração econômica e sustentar os interesses e privilégios de reis, governadores e imperadores. Sim, eram comerciantes do pensar aberrante, das idéias confusas e duvidosas, das palavras vazias e sem fundamento. Assim eram os Sofistas. Trocadores de opiniões por dinheiro. Faziam com efeito intercâmbios comerciais em que suas idéias eram feitas para o serviço de alguém, algum magistrado, mestre ou autoridade, sempre buscando créditos com esse troca-troca de conhecimentos errantes por um capital que os ajudasse em seus desejos e necessidades, anseios e aspirações, ou então para satisfazer sua vaidade ou fundamentar seu jogo de palavras que garantiam idéias destinadas a segurar privilégios e garantir interesses que quase sempre não eram os seus. Eram nômades. Andarilhos de plantão. Chocavam-se com pensadores como Sócrates e Platão. E questionavam Aristóteles e seus seguidores sobre suas atividades “científicas” entre os gregos. Seu sentido era andar.

3. Comerciantes de Idéias

“Idéias valem dinheiro”, “palavras têm crédito no mercado”: com esse discurso, os Sofistas eram contratados por exemplo para convencer o povo da necessidade de aumentar os impostos urbanos tendo em vista a melhoria das condições de vida e trabalho, transporte e infraestrutura, saúde e educação, de toda a Cidade; ou eram chamados para argumentar em favor do governo da monarquia dizendo que se deveria votar nas próximas eleições em tal candidato a fim de se garantir uma gestão de sucesso e uma administração próspera para todos; ou ainda eram convidados para festas de casamento ou aniversário, bodas de ouro e de prata, dos filhos e filhas dos imperadores para angariar fundos e reservas financeiras para o império defendendo então que era indispensável a contribuição de todos e cada um visando os benefícios sociais e familiares garantidos pela gerência do local; ou mesmo eram chamados para audiências públicas, eventos e seminários, conferências e shows, espetáculos de moda ou ocorrências administrativas em que o governo precisava de alguém para “fazer a cabeça do povo’ tentando assim garantir interesses, manter privilégios e sustentar intencionalidades boas ou más lucrativas para os desejos e anseios da administração pública ou privada. Assim, os comerciantes de idéias, os reis do discurso, os imperadores da argumentação, os “profissionais” da retórica, os mestres das palavras bem articuladas, eram privilegiados junto aos mais ricos e poderosos, pois com sua inteligência mal usada ou não serviam aos interesses de quem desejava lucrar com a gestão pública ou privada, crescer em cima da alienação popular, argumentando que um Sofista valia mais que todos os funcionários do império e mais preciosos do que os servidores da monarquia e mais importantes que as necessidades mais urgentes da administração governamental. Sim, “idéias têm um capital interessante e importante”, e os Sofistas eram os ‘profissionais” queridos por todos os que anseiavam por obter lucros no mercado do saber, créditos na vida do poder, e benefícios e favores perante os grandes do campo e os gigantes da cidade. Eis o argumento dos Sofistas: “um Sofisma vale ouro, mais valioso que a prata e mais precioso que o bronze. O Sofisma é o coração das Olimpíadas desenvolvidas na Grécia”.

4. O Sofisma, uma Mercadoria

Erro, mentira, desvio, aberração, falta, alienação, indefinição, indeterminismo, vazio, nada, dúvida, incerteza, opinião sem fundamento, ponto de vista aleatório, visão distorcida da realidade, interpretação incorreta dos seres e das coisas, compromisso com a inverdade, relativização das idéias e palavras, enfim, uma mercadoria de troca, idéias que fazem intercâmbio, troca-troca de intencionalidades, desvirtuamento de interesses, maldade ou não nas intenções e ações, discursos bem feitos mas com maldade no pensamento, raciocínios inteligentes mas errôneos, argumentações falsas sem chão nem teto sem princípio ou fim, retóricas desvirtuadas de sentido, causa ou finalidade, assim os sofismas ganharam fama na Antiga Grécia e paises vizinhos e de outras regiões na Europa e na Ásia, vindo para a África e América, circulando pelas áreas da Oceania, até que virou sinônimo de “contrário à verdade”, levando seus agentes ou instrumentalizadores a se tornarem comerciantes do discurso e mercenários das idéias e palavras, então mercadorias de troca, usadas para garantir interesses de reis, imperadores e governadores, banqueiros e empresários, gente rica e de poder, autoridades administrativas e pessoas de gabarito elevado, de tradição cultural forte, indivíduos-cientistas, ou quaisquer sonhadores ou interesseiros em “fazer a cabeça do povo”, convencer a sociedade, lucrar com a mentira e sustentar a falsidade com palavras bonitas e idéias e ideais cheios de conteúdo cultural. Contra os Sofistas, surgiu a Teoria Insofismática desenvolvida tanto no Liceu de Aristóteles como na Academia de Platão. Os Sofismas eram “jogadas de marketing” visando garantir interesses de minorias à custa da alienação popular. Os Sofismas, para muitos, mais do que o ouro e a prata, mas ferramentas de lucro de capital ou instrumentos de créditos bancários. O importante era ganhar dinheiro.

5. 10 Mentiras fazem uma Verdade

A Arte de convencer o povo não é só privilégio dos Sofistas mas de todo aquele que sabe bem argumentar, desenvolver uma retórica bem fundamentada e articular idéias e palavras com o objetivo de fazer a cabeça da população, alienando todos e cada um quase sempre da verdade do seu discurso e da intencionalidade subjacente à linguagem empreendida, algumas horas mesmo tendo que mentir a fim de esconder interesses obscuros, a verdadeira intenção dos ideais colocados para todos e sua ideologia, reflexo da postura talvez de quem ordena o discurso, pago para sustentar a dúvida e a incerteza, o vazio das letras e o nada de seus dizeres escuros. Todavia, o que caracteriza propriamente os Sofistas é que são técnicos da linguagem persuasiva e profissionais da retórica discursiva, com intenções que certamente fogem à verdade das palavras, à transparência das idéias e à autenticidade da linguagem articulada. Assim, os Sofistas e seus sofismas são usados para defender os interesses dos grandes e suas boas ou más intenções no sentido de arrebanhar gente, dinheiro ou valores interessantes utilizados segundo o conteúdo programático desenvolvido por esses tecnólogos do discurso. Deste modo, a insistência no erro, a teimosia na mentira e o toque excessivo das palavras punham em dúvida a cabeça do povo que desta maneira era convencido a acreditar em sua linguagem errante e faltante. Os Sofistas transformavam as mentiras em verdade, de tanto insistir na errádica teimosia de uma retórica interesseira e quem sabe mal intencionada. O Sofistas lucravam com seus discursos e assim sobreviviam nas sociedades da época.

6. Os interesses em jogo

Na época dos Sofistas de outrora e ainda hoje, os Agentes de conteúdo se interessam em trabalhar vendendo idéias, trocando conhecimentos por valores financeiros, comercializando o saber tendo em vista garantir interesses alheios e sustentar intencionalidades boas ou más, com o intuito de espalhar sua ótica de vida, sua visão muits vezes distorcida da realidade e sua interpretação obscura dos seres e das coisas que compõem e integram os fenômenos do cotidiano. Em certas horas, busca-se elevar impostos, ou aumentar a renda de um governante, ou dilatar os créditos de um empresário, para isso fantasiando a realidade e nela inserindo aberrações psicológicas e desvios ideológicos, a fim de garantir ideais obscuros, sustentar ideologias incertas ou fundamentar teorias que servem para defender interesses e ntencionalidades muitas vezes distantes de nós mesmos, todavia que conseguem nos convencer e fazer a nossa cabeça, definindo intenções que ultrapassam nossa capacidade imaginária, transcendem os limites da nossa inteligência e superam as potencialidades da nossaracionalidade. Assim, os Sofistas de ontem e de hoje usam os conteúdos do saber para aumentar seus créditos e de outros, manipulando idéias visando assim sustentar seus interesses em jogo. Os Sofistas trabalham com as intenções e seu empenho é em demonstrar uma verdade que não existe e uma certeza bastante incerta e insegura e insustentável. Mesmo sem fundamentos, seus argumentos convencem e sua retórica “inventa” uma verdade sem princípios, raizes ou fundamentos sustentáveis. Os Sofistas jogam com as idéias e com os interesses em jogo.

7. O Quadro negro de boas e más intencionalidades

O critério de trabalho dos Sofistas é fazer das intenções o seu jogo de palavras, idéias e imagens, com o objetivo de convencer o povo acerca de algum benefício para o rei, magistrado, imperador ou governante, usando de artifícios de linguagem, de estratégias de retórica e de indefinições de argumentos, o meio indispensável para conseguir créditos junto de seus subordinados, a serviço dos interesses de quem lhes paga bem, lhes presta favores sem fim, lhes oferecem privilégios no governo e beneplácitos perante as autoridades constituidas, tornando-se instrumentos de malandragem e ferramentas de esperteza, tentando assim ganhar pagamentos cada vez maiores em função de sua argumentação sem lógica, de seu raciocínio sem fundamentos, de sua inteligência dúbia e incerta e de sua racionalidade descartável, transitória e inconstante, vazia e sem sentido, instável e provisória, o que lhes garante um bom salário, condições de trabalho as melhores possíveis, situações cotidianas onde seu jeito duvidoso vale mais que a cidadania de uma vida direita e justa, suas mentiras prevalecem sobre a verdade dos fatos, a transparência de atitudes e a autenticidade de seus discursos, feitos com boas ou más intencionalidades cujos interesses superam as boas condutas, ultrapassam a correção ética e transcendem uma certa espiritualidade natural gerenciadora das pessoas retas que fazem da justiça o seu caminho nesta vida. Ao contrário, os Sofistas mentiam para o povo com suas palavras e seus hábitos e costumes, vendiam-se aos seus empregadores e vendiam idéias e argumentos, meios sofisticados de sustentar os seus interesses e os de outros, seus mecenas, ou poderosos de plantão, que lhes ofereciam dinheiro e toda infraestrutura de necessidades a fim de que eles conseguissem realizar seus planos obscuros de ação que culminavam com a alienação popular, o esvaziamento dos discursos, o relativismo das massas e a dúvida imperando sobre todos e cada um, fato em que as incertezas da linguagem e suas palavras descartáveis eram mais importantes do que o direito de ser direito, e a motivação para levar uma existência de qualidade moral ou religiosa. Assim, os Sofistas faziam intercâmbios de idéias, compravam o povo vendendo seus argumentos falsos, em nome da insegurança do discurso todavia com a firmeza de quem a população punha a sua fé e confiança, enganada por sua retórica aberrante e seu discurso desviante. O que importava era chegar aos interesses dos seus proprietários, banqueiros que lhes davam moedas e dinheiro para fazerem a cabeça do povo. Os Sofistas ainda existem hoje nas sociedades modernas. São aqueles mestres mercenários que vão para a escola sem desejo nenhum de ensinar porém ganhar dinheiro com a aprendizagem de seus alunos e alunas. São professores corruptos e desonestos que fazem de sua profissão um jeito de ganhar privilégios e beneplácitos junto às autoridades competentes. Os Sofistas são muito atuais.

8. Um compromisso com a não verdade

Em função dos interesses do rei ou do governante, os Sofistas manipulavam a verdade dos fatos, desviavam as intenções mais obscuras e tornavam aberrantes a conjuntura das palavras, idéias e argumentações, driblando assim a autenticidade do discurso, impondo a todos uma retórica de desvios de conduta, exploração de símbolos e imagens, em nome da não verdade dos acontecimentos. Sim, relativizavam a certeza das coisas, punham dúvidas nas ocorrências reais e linguísticas, esvaziavam os ideais de ética bem comportada já que a mentira reinava, o obscurantismo da linguagem imperava, tudo para salvar seus créditos junto às autoridades constituidas, garantir seu abismo de intenções boas ou más, porém sempre segurando a arte do discurso corrompido pela maldade intencional e por representações mentais que ignoravam a verdade absoluta das palavras. Vencia então o engano popular, a mentira deslavada, a ignorância do povo, a alienação das gentes, identificados com uma compostura de maus comportamentos e exemplos de vida que não deviam ser seguidos pelas populações visadas. Os Sofistas ficavam famosos por sua defesa da inverdade, porém que tinha no discurso a arte de convencer o povo a pagar por exemplo impostos elevados, taxas de manutenção das infraestruturas sociais e políticas, e sustentar a boa imagem do imperador ainda que a retórica e a linguagem argumentativa fossem carentes de transparência e sujeitas às interpretações de quem controlava o poder e dominava a sociedade. Deste modo, os Sofistas eram chamados “os artistas da palavra” pois jogavam com elas a fim de garantir interesses alheios, sustentar intencionalidades escuras e fundamentar opiniões na verdade sem fundamento algum. E os sofismas estavam na boca do povo.

9. Em nome do erro

Certamente esses Professores do erro, mestres da dúvida e docentes da incerteza, que eram os Sofistas, tinham uma conduta moral bastante incerta e obscura, débil e fraca, instável e aberrante, talvez corrupta e quem sabe inconstante, favorecendo uma ética de aberrações políticas e desvios sociais, o que se identificava com a tentativa escura de fazer a cabeça do povo, tentando assim garantir os seus privilégios e os interesses do governo local, arrecadando dinheiro para suas necessidades e investimentos e ganhando créditos financeiros junto aos senhores do poder, que punham neles sua fé e confiança, depositando neles seus benefícios, lucrando com suas falsas argumentações, uma retórica distorcida e um discurso enganador, servindo àquelas intencionalidades maléficas ou benéficas de acordo com os objetos em jogo, os interesses em questão e as intenções visadas. Assim os sofismas eram ferramentas da mentira e instrumentos de falsidade e hipocrisia, obedecendo pois às autoridades que os usavam para sustentar seus ganhos diante do povo. Em nome do erro portanto muitos ganhavam, a minoria lucrava e a maioria se perdia na alienação de idéias absurdas e de ideais efêmeros sem fundamentação ideológica e filosófica. Nascia então a Escola dos Doutores da Malandragem das Idéias, que hoje se espalha pelo mundo, e ainda surgindo também uma Teoria denominada Insofismática que visava defender a verdade das coisas contrariando absoluta e relativamente o ideal sofista. Vários mestres atuais no mundo inteiro pertencem a essa ideologia sofista. Quem ama a verdade foge desse ideal.

10. Inteligentes, mas pouco éticos

A Tendência daqueles professores de rua, especialistas na argumentação tendenciosa, mestres da retórica improvisada, mais sabidos do que sábios, que faziam de seus sofismas uma mercadoria ideológica ou um artifício psicológico cuja finalidade era convencer o povo, fazer sua cabeça, dirigir seus pensamentos de acordo com suas intencionalidades boas ou más todavia que visavam garantir os interesses do poder constituido político ou financeiro, do grande capital investido para tentar manipular a consciência popular segundo as diretrizes propostas pelos governantes, reis e imperadores, que assim sujeitavam as sociedades monitorando sua razão e destinando as idéias e discursos para seduzir as comunidades e orientá-las no sentido de fazer a vontade da autoridade pública ou privada que pagava aos Sofistas para explorarem ao máximo os ideais construidos e deste modo monopolizar as estruturas sociais e culturais, políticas e econômicas das gentes e populações visadas, encarcerando-as em seus pontos de vista, aprisionando-as em suas visões da realidade e escravizando-as em suas interpretações da vida, do homem e da sociedade, do mundo e do universo, e da natureza física e mental, material e espiritual. Concluia-se então a fraca moralidade e a pouca ética sofista ainda que sua inteligência sobressaisse dos discursos desenvolvidos, nas retóricas bastante racionalistas e em suas argumentações muito lógicas mas pouco verdadeiras. Os Sofistas eram assim: grandes mestres da lógica que contudo pecavam pela falta de transparência e ausência de autenticidade. Semeavam a dúvida e construiam a incerteza, ferramentas que ao final favoreciam o “sim” popular às causas governamentais ou dos interessados em fazer a cabeça do povo a fim de garantir, sustentar e fundamentar interesses, privilégios e intencionalidades. Como ontem, os Sofistas hoje estão nos partidos políticos, nas ideologias estudantis, na cultura da corrupção, na mentalidade que defende a inverdade desde que os desejos do poder sejam satisfeitos e realizados. Assim se comportavam ontem e hoje igualmente os mestres da Sofística e seu mundo de hipocrisias, falsidades, desvios e aberrações. No universo ideológico costumam aparecer os Sofistas, sempre com alguma intenção a ser buscada e um interesse a defender ou um privilègio a sustentar. Nos sofismas, o produto transformado em capital.

11. A Mentira acima de tudo e de todos

Terríveis na batalha das idéias, especialistas na argumentação tendenciosa, doutores da retórica persuasiva e mestres do discurso aberracionista, os Sofistas tinham como critério de certeza a mentira ainda que a não verdade fosse o fundamento de suas abstrações contorcionistas, o princípio de suas admoestações fantasiosas e imaginárias e o critério de suas afirmações sem sustentação alguma. Seus interesses coincidiam com intencionalidades que visavam fazer a cabeça do povo a fim de atingir metas, objetivos e finalidades como o aumento de impostos, a elevação de taxas e portarias, a obtenção de desejos autoritários, a busca de alternativas cujos créditos favoreciam as autoridades encarregadas do pagamento desses professores ambulantes, aberrantes e desconcertantes, mas que com suas letras e palavras cheias de apologia ideológica conseguiam ganhar os favores das multidões e os benefícios de quem os pagava para conseguir com que as populações ficassem do lado dos governantes, poderosos e reis, e imperadores os grandes responsáveis pela alienação popular, direcionadores da consciência do povo para resultados identificados com os interesses dos que sustentavam as atividades sofísticas. Portanto, em nome da mentira conseguiam provar o improvável, convencer as gentes aparentemente inocentes e levá-las a caminhos inseguros e insustentáveis, sem fundamento algum, inseguros e alienantes. Deste modo, cresceu a idéia, a cultura e a mentalidade de que era possível fazer comércio com as idéias, pensamentos e conhecimentos, trocando-os por dinheiro fácil, valores financeiros e bancários, garantidores da boa vida desses professores alienadores e sustentadores da corrupção ativa que reinava em suas épocas, ontem e hoje. Os Sofistas, mestres da falsidade e da hipocrisia. Não tinham grande moralidade. Sua ética eram as atitudes aberrantes e alienantes que desviavam do bom caminho pessoas inocentes, grupos e comunidades convencidas de que os Sofistas tinham razão. Uma razão sem verdade. Uma lógica sem certeza. Uma idéia sem caminho. Pois o caminho era o descaminho.

12. A Arte de enganar

Hoje em dia, a presença dos Sofistas se faz nos partidos políticos e sua rede de intercâmbios culturais, nas ideologias estudantis e sua teia de relações sociais, na apologia das estruturas governamentais e seu modo de criar impostos e taxas para sustentar seus interesses em jogo, na defesa de secretarias e ministérios e sua maneira de aumentar ou diminuir a verdade dos fatos, na construção de ONGs e suas intencionalidades obscuras quando o que vale é a alienação popular, a indiferença dos mestres e a relativização dos fenômenos cotidianos, na desconstrução da transparência ética e espiritual em nome de ações desvirtuosas, de atividades transtornadas e de atitudes cujos distúrbios atingem a mente de cidadãos e cidadãs aparentemente inocentes, na definição de argumentos alienantes e de retóricas violentas e de discursos agressivos, na preparação de eventos, shows e espetáculos quando o objetivo é usar das palavras e ideologias para ganhar dinheiro ou lucrar de alguma maneira com a inocência das gentes, enfim, quando se tenta enganar a sociedade a fim de se garantir privilégios de autoridades, interesses de líderes ou as boas ou más intencionalidades de poderosos e governantes desejosos de créditos, favores e benefícios a partir da enganação do povo e seu jeito de acreditar em tudo que vê, ouve e assiste. Assim operam os ideólogos sofistas atualmente. Sempre reproduzindo um comportamento pouco ético, negligente na espiritualidade, de moral baixa e fraca, e de práticas que enfatizam o desvo da linguagem e a aberração dos discursos. Os Sofistas são modernos.

13. Quando as palavras valem dinheiro

A Atividade Sofística rendia grandes lucros, favores em dinheiro e benefícios de capital elevado quando seus mestres como Górgias, Protágoras e Isócrates saiam para fazer seus discursos de alto valor financeiro, bastante apologético pois defendiam, como advogados de plantão, os interesses de seus financiadores, argumentando muitas vezes sem um compromisso com a verdade da realidade, discurso igualmente sem fundamento algum, persuadindo seus ouvintes e interlocutores sobre as boas ou más intencionalidades dos líderes e governos, compradores de sua retórica sabida mas sem sabedoria alguma, já que os professores da incerteza e definidores da indefinição das idéias, advogados principalmente da dúvida argumentativa, indeterministas de plantão e céticos acima de tudo – porque entravam em choque com a filosofia tradicional grega que mais tarde consagrou Sócrates, Platão e Aristóteles – viajavam para capitalizar recursos para seus desejos e necessidades, verdadeiros cambistas de teorias que expulsavam a verdade real e atual de seus aparatos discursivos desviantes da boa transparência das virtudes e cujas aberrações alienavam o povo do que realmente estava acontecendo ora na política e na sociedade, ora na economia e na cultura em geral. Deste modo, a Sofística cresceu “inventando” idéias, produzindo uma lógica filosófica que iria agradar às futuras gerações. Foi assim que os docentes da Sofística ficaram famosos por defender quase que uma filosofia popular de grande sustentação doutrinal apesar da relatividade de seus discursos. Nascia então a Sofística.

14. Semear a dúvida

Grandes Sofistas como Pródico, Górgias, Isócrates, Hípias e Protágoras de Abdera eram praticamente céticos por natureza e questionavam a possibilidade do conhecimento e a obtenção da verdade, preferindo a dúvida como motor da argumentação e a incerteza como regra de uma retórica persuasiva que apesar de seu ceticismo metódico era sustentada por valores permanentes e estáveis e por princípios sólidos, firmes e fortes, somando-se a isso a relatividade de seus discursos, o indeterminismo de suas idéias e palavras e o niilismo de suas teorias e ideologias sem fundamento algum, que se mantinham pela boa experiência argumentativa geradora de construções filosóficas ricas em conteúdo, de beleza formal e linguística e de excelência lógica, ideológica e psicológica. Deste modo, a Sofística se desenvolveu semeando pensamentos positivos mas incertos, ideais otimistas todavia duvidosos, transformando seu público em portal do ceticismo vacilante onde as palavras eram soltas e seus discursos sem bases estáveis de uma filosofia rígida, austera e rigorosa e disciplinada. Ao contrário, os Sofistas inventavam idéias e argumentavam com a sabedoria do dia a dia, mais fácil de convencer seus ouvintes e interlocutores. Tal convencimento tinha um preço: o crédito ea fama dos Sofistas junto às autoridades e governos constituidos. Como resultado, muito dinheiro em jogo, capital que financiava seus discursos em defesa de seus credores e financiadores. Os Sofistas então cresceram, e com eles a Sofística, a Arte de Argumentar e discursar com relativa fundamentação de idéias e conhecimentos.

15. Trabalhar com a incerteza

É possível que para os mestres da Sofística trabalhar com a incerteza era um bom negócio, pois deste modo sob o império da dúvida conseguiam convencer as multidões que os ouviam, nelas inserindo os interesses de seus credores financeiros, incluindo seus desejos por mais credibilidade perante esse povo, que neles creditavam suas consciências, inocentes até então, sob o poder persuasivo de suas palavras, definidos por suas argumentações obscuras e de intencionalidades tenebrosas, de retóricas enganosas que só serviam para esconder o bem ou o mal de suas idéias e pensamentos aberrantes e alienantes, desviadores muitas vezes da boa conduta ética e longe de uma espiritualidade correta onde Deus seria tudo em todos. Todavia, reinava nas sociedades visitadas a incerteza de suas teorias e o lado duvidoso de suas ideologias. Parecia mesmo uma estratégia de discurso deixar o povo na dúvida porque assim não questionavam seus fundamentos nem duvidavam dos verdadeiros interesses em jogo, abraçando suas intenções e objetivos escuros. Assim venciam os Sofistas, cada vez mais endinheirados, com seus pensamentos instáveis e descartáveis que faziam a cabeça das populações e comunidades visitadas. Era o Reino da Sofística nos séculos III, IV e V da Antiguidade Grega.

16. O jogo descartável das letras

A Intensidade das chamadas de última hora, o grande número de convites para defesa em praça pública, as viagens incessantes, os movimentos de ida e volta discursando em várias regiões, os argumentos criados surpreendentemente, a retórica surgida de repente, tudo isso, enfim, tornava as palavras, as idéias e os pontos de vista descartáveis, as opiniões transitórias e o falar feito de pensamentos indefinidos, surgidos de uma ora para outra, encaixados nas argumentações provisórias de conteúdos variados mas sem fundamento algum, teorias que se construiam localmente, em tempo zero, produzindo-se pois com o tempo uma ideologia sofista que fez brotar o próprio sentido do filosofar, de princípios estáveis todavia de discursos descartáveis, de valores firmes e fortes porém de linguagem efêmera e fútil quase chegando ao inútil, isso porque a realidade grega cotidiana favorecia as ações sem consistência, as atitudes sem raizes e as atividades cuja moralidade carecia de normas e conceitos consolidados com o tempo e que sustentavam a fraqueza das palavras discursadas embora sofrendo a mesma violência de uma realidade diária e noturna que não se comprometia com definições permanentes e determinismos constantes. Sendo assim, os Sofistas evoluiram na sociedade grega desenvolvendo um modo e estilo de filosofar seguro apenas nos princípios entretanto débeis nas articulações das letras mutas vezes sem conteúdo nenhum e de princípios e valores sem raizes profundas, que eram apenas a aparência do dia a dia. Cresceu assim a Sofística, a Escola das Argumentações relativas e céticas, indeterministas e niilistas.

17. Contra o outro lado: a Insofismalidade

Embora de tendências positivas e de cuja logicidade a filosofia só tende a ganhar, tradicionalmente a Sofística enfrenta um discurso que faz da verdade lógica e metafísica a essência do seu ministério; a Insofismática. Esta transforma a transparência de seu conteúdo, objetivos e resultados na autêntica expressão da GNOSE, mostrando e demonstrando que todo e qualquer conhecimento tem por finalidade o encontro com a verdade lógica e ontológica. Assim se constitui, se desenvolve e se expressa articulando os dados e informações acerca da verdade como fins de toda e qualquer procura pelo conhecimento em geral, algo que nos primórdios dos Sofistas contrariava praticamente seus interesses e intencionalidades cuja força era questionar a possibilidade da verdade, definir o lado cético da retórica como seu poder central, ainda determinando o indeterminismo de suas idéias, letras e palavras como sua alternativa de causa da argumentação metódica, transformando igualmente a via niilista como sentido e razão de seus anseios por advogar as intenções obscuras de autoridades e governos que lhes pagavam grandes capitais para defenderem apoleticamente os interesses de suas instituições governamentais. Desta maneira, a Insofismática contradiz os erros, as faltas e a mentira nem tanto apregoada pelos Sofistas, como diz a tradição filosófica. Os Sofistas acima de tudo eram reflexos do bom filosofar e de uma lógica filosófica que se aproximavam bastante da verdade lógica e ontológica, mesmo que suas intencionalidades possam ser aberrantes, desviantes do bom caminho ético e adversas à viabilidade da verdade. Sim, de um certo modo os Sofistas também eram verdadeiros, a seu modo é claro, de um jeito personalista e individualizado, e não social e coletivo. A Sofística assim evoluiu. Chegou perto da verdade.

18. Um mundo indeterminado

A Realidade do discurso sofista caminha tendencialmente para a indeterminação das coisas e dos seres que integram os fundamentos da argumentação, onde as palavras possuem caráter indefinido tendo em vista a sua abordagem acompanhar o cotidiano das regiões, campos e cidades visitadas por esses professores de uma retórica transitória e descartável, inconstante e efêmera, instável e provisória, refletindo uma realidade grega onde as circunstâncias do dia a dia parecem insustentáveis, incompletas, parciais e carentes de totalidade e universalidade, embora suas raizes filosóficas apontem para um estilo de discurso que envolve princípios de estabilidade e consistência lógica e firmeza metafísica, todavia os fenômenos que tornam possível sua persuasção oferecem condições reais e atuais capazes de constatar como suasidéias revelam a condição cotidiana, que faz os argumentos se carregarem de conflitos sociais, intempéries políticas, irregularidades econômicas e falta de transparência ética, cultural e espiritual, o que mostra e demonstra como a Sofística reproduz uma realidade grega de distúrbios constantes e transtornos permanentes. Porém é deste modo que surge a Sofística e seus teóricos e idealizadores possuem mesmo a intenção de desvelar em seus pensamentos as bases do cotidiano da Grécia Antiga e suas áreas territoriais circunvizinhas. Nasceu desta maneira o discurso dos Sofistas. Algo que reflete sua insustentabilidade lógica e ontológica, entretanto de normas linguísticas consistentes e fortes. Eis o pensar dos Sofistas que transparece sua realidade existencial sem fundamentos morais e espirituais.

19. Um universo indefinido

O Repertório cultural, a riqueza de conteúdo ideológico e a excelência da facilidade de desenvolver a filosofia revelam ao contrário do que muitos imaginam um mundo de pensamentos indeterminados e de idéias indefinidas, de argumentos descartáveis e retórica transitória, de ideais niilistas e conhecimentos relativos, de consciência cética e de cabeças indeterministas, porque os Sofistas criavam seus conteúdos na hora de acordo com a ocasião, refletindo o contexto social da realidade cotidiana, de jeito improvisado e maneira surpreendente, um modo de filosofar que desvelava seus pensamentos originais, reflexos de um ambiente consciente transtornado e instável onde as teorias se construiam de modo inseguro e intranquilo, características essas dos filósofos do ocidente e oriente que antecederam a filosofia clássica de Sócrates, Platão e Aristóteles, um universo não novo mas resultado dos fenômenos cotidianos feito de ocorrências de sofrimento e trabalho, lazeres e esportes, artes e ciências, morais duvidosas e religiões polivalentes, de culturas multifuncionais e mentalidades sem fundamento algum, de princípios praticamente insustentáveis cujas raizes eram a relatividade dos fatos e o ceticismo dos acontecimentos, a efemeridade do individualismo e o ateísmo de visões sagradas e supersticiosas, de luzes aparentes e transparências presas às doenças sociais como a fome de alguns e a miséria de muitos, o desemprego constante e o ócio permanente. Tudo isso fazia refletir o comportamento da Sofística que surgia com ares de um novo e diferente filosofar dentro da Antiguidade Grega dos séculos III, IV e V a.C.

20. Parece que reina o nada e impera o vazio

O Estilo, jeito e maneira de filosofar de quem se faz seguidor e discípulo dos Sofistas parece idêntico ao que se refletia no mundo grego de outrora e hoje igualmente em pleno século XXI onde reina o vazio dos discursos, o modo nadante da retórica e uma lógica persuasiva sem muitos fundamentos, com uma argumentação surpreendente, feita de improviso, em que de repente brotam idéias e nascem palavras, e se desenvolvem pensamentos transitórios e instáveis, sem princípios permanentes e sem valores consagrados com o tempo e o dia a dia. Deste modo, surgia a Sofística em famosa Antiguidade Grega. Hoje também se define um discurso a partir da relatividade dos conhecimentos, o niilismo das letras, o ceticismo comportamental e o indeterminismo dos fatos cotidianos. Nesse ambiente descartável e sem bases, se produzem os sofismas, a Sofística e os sofistas. Talvez tenhamos algo a ver com esses mestres da persuasão sadia e da argumentação saudável ainda que a tradição filosófica aponte erros e distúrbios em sua maneira de pensar, agir e se comportar. No entanto, os Sofistas são atuais e reais.

21. Individualistas sim

Era aleatório o modo de organização dos docentes sofistas, fruto de uma realidade de panorama descartável onde os princípios eram transitórios, instáveis e inconstantes, as sociedades visitadas viviam em afazeres do dia a dia praticamente transtornados, de distúrbios nas casas, ruas e famílias, um cotidiano cheio de contradições materiais de trabalhos efêmeros e serviços não muito confiáveis, enfim comunidades turbulentas, de contrariedades diversas e diversidades e adversidades variados, refletindo assim o estado patológico de muitos do povo, concretamente alienados dos acontecimentos, desligados do real ainda que a política de alguns fosse forte, a economia sensivelmente frágil, e do ponto de vista cultural e social as gentes gregas favorecessem o livre pensamento, a liberdade de expressão e um mundo de possibilidades que só a razão dos gregos poderia interferir para que as idéias, conhecimentos e pontos de vista das populações sobressaissem diante das fracas diretrizes de uma sociedade conflituosa, problemática e de dificuldades múltiplas, o que caracterizava a racionalidade grega envolta por violências de todo tipo causando impactos negativos na inteligência desses mestres da Sofística. Por isso mesmo, seu pensar, sentir e agir era individualizado, carente de universalidade e integridade linguística, enfatizando a defesa e apologia de quem tinha o prazer de persuadir em troca de um bom capital, argumentar com arte e fazer uma retórica de conteúdos quase que científicos tal a abordagem rica de lógica dos ideais sofistas.Deste modo, crescia a Sofística. Ao mesmo tempo de pensares individualizados junto com a confusão dos campos e das cidades, e de uma vida sem muitas alternativas a não ser as opções de uma racionalidade livre, criativa e original, própria dos mestres sofistas. Pois assim se desenvolveu a boa arte de filosofar de mentalidade científica e cultura logicista. Os Sofistas sabiam empreender a boa lógica com um discurso carregado de potencialidades dentro de uma linguagem filosófica aberta e renovada, e liberta das prisões psicológicas próprias dos antigos mestres da filosofia. Foi assim que os Sofistas se destacaram nas sociedades gregas antigas.

22. A Sofística

É a arte e ciência dos Sofistas, esses professores ambulantes e viajantes cujos discursos eram a defesa e a apologia dos interesses de seus financiadores que lhes pagavam grandes somas de capital para que eles argumentassem em favor das intencionalidades de reis, governos e imperadores, persuadindo o povo quanto à necessidade de aumentar taxas e impostos sociais, melhorar a política governamental de seus campos e cidades, elevar o salário dos funcionários públicos, adquirir simpatia popular, conquistar benefícios das populações visitadas, e assim desenvolver uma retórica interesseira embora sua atividade favorecesse o bom discurso filosófico, o qual tinha na Sofística um campo aberto de novas e diferentes possíbilidades lógicas e ontológicas, identificando-se pois o bom conteúdo da filosofia e a boa maneira e o jeito específico de se articular a linguagem, propriedade característica dos Sofistas, mestres da boa persuasão, da ótima argumentação e de uma retórica descartável e transitória, o que refletia o cotidiano daquela realidade grega da antiguidade. A Sofística nos deu a arte do bom filosofar ainda que pecasse por uma ética débil e fraca, e uma moralidade aparentemente corruptora das idéias articuladas e das palavras produzidas. Todavia, a Sofística se caracteriza hoje por seu excelente modo de fazer filosofia. Sim, filosofar é uma arte. Foi o que nos ensinaram os Sofistas.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Alguém pensou...

Alguém pensou,
e tudo existiu

Existe uma Razão no universo que dá existência aos seres e a todas as coisas ?
Há uma Inteligência na natureza que possibilita, origina e constitui todos os objetos, os seres e as criaturas ?
Insiste na criação Alguém que define a ordem natural das coisas e determina o movimento e o repouso de todos os seres que habitam o Globo Terrestre ?
Acredito que sim.
O Pensamento antes, e a realidade depois.
A Racionalidade humana produz e consolida a experiência cotidiana.
Nossa mente é a fonte dos fatos e a base dos acontecimentos.
Para existir alguma coisa, é necessário que alguém pense essa coisa anteriormente.
Logo, o nosso pensar é a causa da nossa realidade interior e exterior.
E acima de nós está a grande Razão Suprema e Superior a tudo e a todos, que nos “pensou” e nos deu ser e existência, nos propiciou um corpo material e espiritual, uma mente de idéias, valores e intenções, e uma alma imortal, eterna, perpétua e infinita, capaz de um dia estar diante do seu Criador e Autor da Vida desde que é óbvio tenha tido uma vida boa, feito um pacto com o bem e a paz, praticado a justiça e o direito entre nós, usado o juizo e o bom-senso em seus atos, atitudes e comportamentos, vivido o amor pelos seus semelhantes e sobretudo louvado e glorificado o Senhor Deus no meio de nós.
Com efeito, a realidade é constituida por pensamentos gerados antes da experiência concreta dos fenômenos cotidianos.
Pensando o real, o real torna-se racional, a inteligência se concretiza e a consciência se transforma em prática de valores e vivências, intenções e interesses que configuram a sociedade humana.
Assim, aquela cadeira ali diante de mim, foi resultado de um projeto do pensamento de alguém, que ao pensar a cadeira deu-lhe ao mesmo tempo existência, a partir de objetos materiais como a madeira, o verniz ou a tinta que pintou a cadeira, o serrote e o formão que serraram e formataram a madeira, o papel de desenho que planejou a execução dessa mesma cadeira.
Portanto, a realidade é fruto do pensamento.
Penso, por isso tenho existência.