domingo, 15 de janeiro de 2012

Sofística 1

S o f í s t i c a
A A r t e d e F i l o s o f a r

P r e l i m i n a r e s

Tendo como pano de fundo os Professores Protágoras, Górgias e Isócrates, Mestres Sofistas, os primeiros a desenvolver a Sofística nas regiões gregas da Antiguidade, séculos IV e V a.C., buscaremos aqui mostrar e demonstrar como se faz Filosofia, como fundamentar pontos de vista e pensamentos importantes, articular idéias novas e conhecimentos diferentes, sempre apresentando o modo filosófico de construir teorias, palavras e ideologias, a partir do Modelo Sofista, cujo conteúdo servirá de paradigma para a "A Arte de Filosofar". Assim de acordo com o exemplo da Sofística, conjunto de ideologias financiadas por capital, bancadas por reis, governadores e presidentes, de definições incertas e duvidosas, de princípios sem base científica, desvirtuadores do povo e alienadores da realidade, indeterministas até certo ponto e niilistas até demais. Deste modo, mostraremos aqui como se constrói o Filosofar tendo como raizes a Sofística, sua importância no dia a dia, e como é capaz de se tornar a base fundamental de teorias de toda espécie, ideologias diversas e pensamentos variados, que vão interferir nos destinos da sociedade, nos caminhos de comunidades inteiras e na vivência e prática de quase toda a humanidade. Portanto, a partir da Sofística, vamos Filosofar!


1 . A s R e g r a s d o D i s c u r s o

O s g r a n d e s S o f i s t a s e s e u s s e g u i d o r e s c o m o G ó r g i a s , P r o t á g o r a s e I s ó c r a t e s , c o m o t e m p o e s u a p r á t i c a r e t ó r i c a d e s e n v o l v e r a m a s p r i n c i p a i s r e g r a s d o d i s c u r s o f e i t o c o m p e r s u a s ã o , i n t e n ç õ e s n e m s e m p r e b e m d e f i n i d a s e i n t e r e s s e s t a l v e z m a l r e s o l v i d o s , p o i s l u c r a v a m c o m s e u c o m é r c i o d e i d é i a s e i n t e r c â m b i o d e p a l a v r a s , a p e l a n d o p a r a u m a a r g u m e n t a ç ã o q u e m s a b e c h e i a d e e r r o s e f a l t a s , m a s q u e p o s s u i a m a s a b e d o r i a d e q u e m f a l a v a e m p ú b l i c o , d i s c u r s a v a c o m a p r u d e n t e a r t i c u l a ç ã o d a s l e t r a s , i m p u n h a m c a t e g o r i a s d e p e n s a m e n t o q u e f a z i a m d e s e u s p o n t o s d e v i s t a p e s s o a i s d i g n o s d e c r é d i t o p o r p a r t e d o p o v o , d e c o n f i a n ç a q u a s e a b s o l u t a e d e f é q u a s e q u e n e c e s s á r i a , a i n d a q u e a s e r v i ç o d e g o v e r n o s e l í d e r e s , q u e l h e s p a g a v a m p o r s u i a i n d ú s t r i a d e s a b i d a s i d e o l o g i a s e p o s s i v e l m e n t e s á b i a s t e o r i a s , d e p r i n c í p i o s r e l a t i v o s e d e v a l o r e s d e s c a r t á v e i s . E m b o r a c o n f i á v e i s a p a r e n t e m e n t e m a n t i n h a m l e i s d o d i s c u r s o q u e o t o r n a v a m a p t o a s e r a b s t r a i d o p e l o s o u v i n t e s e a p r e e n d i d o p o r s e u s i n t e r l o c u t o r e s . N o r m a s c o m o a r e l a t i v i d a d e d a s i d é i a s , o i n d e t e r m i n i s m o d a s p a l a v r a s e o n i i l i s m o d a s l e t r a s a s s i m c o m o o c e t i c i s m o d e s u a s a b o r d a g e n s c r e s c e r a m n o m e i o p o p u l a r e f i l o s ó f i c o c o m o f u n d a m e n t o s d e s c a r t á v e i s s e m c h ã o n e m t e t o s e m p o r t a s n e m j a n e l a s c o n s t r u i n d o u m a r e t ó r i c a c u j a r a c i o n a l i d a d e f a z i a a a p o l o g i a d o s i n t e r e s s e s e m j o g o t o d a v i a r e v e l a d o r e s d e u m a l ó g i c a d i s c u r s i v a b a s t a n t e c o n f i á v e l . A s s i m e r a m o s S o f i s t a s , a r t i c u l a d o r e s d a S o f í s t i c a , a C i ê n c i a d a L ó g i c a r e l a t i v i s t a o n d e a s p a l a v r a s s ã o i n c e r t a s e a s i d é i a s d u v i d o s a s , p o r é m c r e d i t a n d o f é e c o n f i a n ç a p a r a s e u s A u t o r e s . N a s c i a a s s i m a I d e o l o g i a d a I n s e g u r a n ç a p e s s o a l , t a l o o b j e t i v o d e s s e g r u p o d e m e s t r e s s o f í s t i c o s .

2. Uma Lógica insegura

O Filosofar é uma maneira de ser e de viver das pessoas, um modo de se comportar a partir de uma ideologia de vida fundamentada em princípios firmes e sólidos e em valores geralmente estáveis e permanentes, absolutos e necessários, um estilo de pensar e existir no cotidiano segundo regras de uma racionalidade cujas raizes são o indeterminismo dos acontecimentos, o lado cético de conceber a realidade, o modelo niilista de tratar indivíduos e parceiros de estrada e companheiros de caminhada, o tipo de vivência onde a instabilidade das palavras e a inconstância das idéias tornam a existência descartável, o que confere à filosofia de vida e seu jeito novo e diferente de viver uma articulação de pensamentos leves, de letras macias, de palavras doces e idéias suaves, pois o filosofar deve ser manso e equilibrado, bastante sensato, seguindo as raizes de um pensar transformado em canal de saúde e bem-estar para quem faz dele sua norma de vida, o sentido do seu cotidiano e o significado mais fundo e profundo de seu encontro com a realidade de cada dia, noite e madrugada. É o que faziam os mestres sofistas e seus seguidores. Porque da Sofística pode-se apreender o verdadeiro filosofar, abstrair dela as técnicas de persuasão, as regras do discurso, os fundamentos da argumentação bem feita e os princípios de uma retórica cujas raizes são a racionalidade e sua relação com a realidade cotidiana, de onde se constrói o autêntico filosofar de todos os dias, e de cada hora, minuto e segundo. Sim, os Sofistas nos ensinaram a filosofia fácil, a linguagem do povo, o modo correto de interpretar os fenômenos do dia a dia. Assim se constitui a filosofia original propriamente dita, a filosofia pura, em que seu discurso é brando e manso, suave como a música dos passarinhos, leve como as borboletas dos campos, doce como o sonho da padaria e macio como o perfume das rosas vermelhas da primavera. Eis o filosofar verdadeiro. Sua transparência vem da Sofística. Dela nasce a boa interpretação insofismável ainda que a tradição filosófica erroneamente atribua aos Sofistas uma falta de ética e espiritualidade que possuiam a tendência de corromper seus discursos. Os Sofistas, ao contrário, os verdadeiros filósofos.

3. A Instabilidade da Argumentação

A História da Filosofia Ocidental e Oriental tem nos ensinado, a partir dos Sofistas e seus alunos, discípulos e seguidores espalhados pelo mundo afora, certamente, que se precisamos para filosofar de princípios estáveis e valores permanentes sustentadores do discurso filosófico igualmente esse trabalho processual de produzir filosofia se faz por meio de retóricas inseguras e indefinidas, de argumentos sem chão e sem fundamento algum, de raciocínios céticos e indeterminados, de oratórias niilistas e vazias, frágeis e vacilantes, de uma lógica descartável onde as idéias pulam e gritam por um discurso polivalente, de múltiplas funções transitórias, de palavras provisórias e teorias e ideologias cujos princípios, fontes e raizes são a relatividade das coisas, a indeterminação dos fatos cotidianos e o vazio dos dizeres sem bases psicológicas e sem sustentação segura ainda que suas raizes sejam absolutas e seu mundo sustentador seja tranquilo e estável porque trabalha com pensamentos necessários, categorias eternas e uma logística de origem bem consolidada com o tempo e espaço filosóficos. Daí a instabilidade da persuasão sofista gerando conferências duvidosas e inseguras e incertas todavia que refletem o modo de fazer filosofia ontem e hoje. Tal o estilo criativo de desenvolver a atividade filosófica. Esse o jeito dos filósofos filosofarem. De fato, a Sofística nos faz abstrair dela o verdadeiro discurso da lógica e hermenêutica filosóficas. Assim podemos filosofar com facilidade, naturalidade e tranquilidade. Grande Protágoras de Abdera cuja Antropologia Social deu à humanidade o entendimento da natureza humana e a compreensão de seus limites psicossociais, fronteiras ambientais, outras maneiras de aceitar os homens e mulheres e seus problemas, conflitos e dificuldades. A Sofística fez o homem ressurgir.

4. Uma Retórica sem fundamentos

5. A Dúvida construtora do Pensamento

6. O Saber Indeterminável

7. O Complexo das questões indefiniveis

8. Nadar no Vazio das Idéias e das palavras

9. A Linguagem personalizada

10. Vivemos de pontos de vista

11. Visões da realidade diferentes e até contrárias

12. Interpretar da minha maneira

13. Superar desvios e aberrações

14. Ultrapassar limites e fronteiras

15. Transcender a falta de ética

ANEXO – A

O “Ápeiron” de Anaximandro de Mileto e a Sofística de Protágoras de Abdera – Interações Positivas

Os séculos IV, V e VI a.C. refletem para nós um contexto filosófico e social onde os Sofistas como Protágoras de Abdera e Górgias discutiam com os pré-socráticos e Sócrates a possibilidade da verdade e do conhecimento, tendo a Sofística original posto em dúvida essa viabilidade enquanto que os primeiros filósofos defendiam a transparência do saber feito com autenticidade onde a verdade do ONTÓS caminhava de braços dados com a verdade do LOGOS. Entre eles, Anaximandro, discípulo de Tales, propunha o Princípio Indeterminado, o “ÁPEIRON” que, mais tarde, fez com que alguns mestres de lógica e metafísica, relacionassem esse Princípio Indefinível com a atividade sofista, pois em seus discursos itinerantes, argumentações vazias e sem fundamento e retóricas transitórias e duvidosas, os Sofistas pressupunham o Indeterminismo, o “ÁPEIRON”, como fonte de suas oratórias nadantes e de seus pensamentos céticos e niilistas, talvez assim os tornassem creditáveis perante o público, de confiança diante dos Chefes de Estado e de fé popular, transformando-se então em advogados da persuasão, criadores de idéias e produtores de palavras tontas, vacilantes e sem raizes sustentáveis. Abraçando o “ÁPEIRON”, os Sofistas desenvolveram com seu teórico principal, Protágoras, toda uma Antropologia Social que segundo o mestre faz do “homem, a medida de todas as coisas”. Tal falar inconstante e instável de oratórias infundadas e passageiras fez da Sofística a base do verdadeiro Filosofar, constituindo-se posteriormente os bons princípios e valores da consciência humana, estáveis e seguros, tranquilos e absolutos, orientadores da conduta humana por toda a presente e futura jornada da humanidade. Tal a relação interativa entre o “ÁPEIRON” e a SOFÍSTICA.

ANEXO – B

A Sofística, uma realidade cotidiana atual

No meio dos estudantes universitários, na luta e discussão de partidos políticos, nas políticas públicas de Prefeituras e Órgãos do Governo, nos Simpósios e Conferências de Empresas e Faculdades, nas salas de aula do Estado e Município, na apologia de interesses de grupos governamentais, na defesa de intencionalidades de líderes e dirigentes de ONGs, enfim, onde haja um discurso a fazer, um direito por combater, um dever a cumprir, algo a ganhar, um crédito a considerar, a presença da atividade sofista se vê insistente. Na hora do discurso ou da argumentação persuasiva, põem-se idéias, teorias e ideologias como ferramentas de retórica a lucrar com a manipulação das consciências alheias, o manuseio das cabeças inocentes, a exploração da irracionalidade dos argumentos, a incerteza das “verdades” postas para todos, as dúvidas nas palavras debatidas, o vazio das oratórias sem fundamento, céticas e niilistas, transitórias e inconstantes, relativas e indefinidas, nadantes e indeterminadas, sempre com o objetivo de enganar o povo, ou obter créditos ao fazer a cabeça das pessoas. De fato, a Sofística é real e atual. Está presente nas escolas e universidades, na política e nas empresas, nos governos e prefeituras, como por exemplo a tentativa de aumentar impostos, elevar taxas sociais e produzir leis e regras de conduta que quem sabe alienam a sociedade dos verdadeiros interesses em jogo. Nem de boas intenções vivem os cidadãos. Aberrações e corrupções estão por toda parte. Pessoas são pagas para convencer multidões e persuadir grupos e indivíduos a fim de sustentar intenções obscuras, aberrantes e alienantes. Sim, a Sofística é uma realidade hoje.

ANEXO – C

O Pensamento descartável

Os Professores Sofistas e seus discípulos, desde a Antiga Grécia até nossos dias atuais, em suas andanças e viagens, peregrinações e locomoções, propunham um discurso itinerante quando defendiam os interesses de governos e altas autoridades das regiões visitadas, palavras descartáveis e idéias transitórias, uma oratória sem raizes ideológicas, argumentos sem premissas e conclusões, um raciocínio sem fundo de letras vacilantes, inseguras e incertas, uma retórica duvidosa e não científica, pois cruzavam os caminhos produzindo ideologias inventadas na hora, sem preparo programático, sem planejamento preciso, ignorando a lógica fundamental necessária para uma conferência de princípios estáveis e valores permanentes. Ao contrário, seus dizeres eram sem normas e fontes concisas, palavriados soltos e feitos de surpresa, sem preparo algum mas construidos de uma ora para outra, sem avisos pré-fabricados ou planos de futuro não consolidados. Deste modo, surgiu uma atividade filosófica gerada com o tempo e o exercício teórico e doutrinal de Protágoras e Górgias principalmente, articulando-se assim então o verdadeiro filosofar de diretrizes indefiniveis e orientações indeterminadas. Hoje, fazer filosofia é buscar essa estrada do ceticismo ambulante, do indeterminismo processual e do niilismo mobilizador de letras, idéias e palavras sem fundamento algum, todavia constituidores do pensar leve, da interpretação fácil, da visão da realidade construida com inconstância e instabilidade, porém produtores de princípios e valores mais tarde seguros, tranquilos e permanentes, o que caracteriza bem a arte de filosofar. Portanto, esse pensamento descartável sustentado por raizes fundas, fecundas e profundas é propriamente a maneira correta de transformar-se idéias e conhecimentos em teorias e práticas filosóficas. Tal o filosofar de nossa realidade moderna.

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