domingo, 4 de março de 2012

O Ser e o Vazio 2

O Ser e o Vazio

1

A Essência é o Nada

A Existência humana e sua realidade cotidiana nos apresentam os conteúdos do ser natural e universal, e os detalhes de sua essência globalizadora e as diferenças de sua substância totalizante.
À margem desses conteúdos pensantes, discernentes e cognoscentes está o vazio da vida indefinida e o nada dos ambientes indeterminados.
No vazio do ser, a irrealidade de um viver sem sentido e a irracionalidade de um existir sem razões suficientes para se constituir, se propagar, se consolidar e se estabilizar.
Ali, o nada é a presença, o vazio é a essência, o silêncio é a transparência, a ausência é a consciência, a falta é o todo, o abismo é o mais fundo da realidade e o mais profundo da eternidade.
Sim, entre as fronteiras do ser e suas manifestações simbólicas e imaginárias, eidéticas e eustáticas, intencionais e insofismáticas, vivenciais e experienciais, e os limites do nada que nada para o mergulho no oceano das coisas vazias e dos seres faltantes, das instâncias silenciosas e das aparências ausentes, se encontram as relações entre as pessoas, as suas conexões internas e externas, a sua interatividade com a realidade, o tempo e a história, o seu compartilhamento de tudo o que é bom e faz bem à vida humana, à natureza criada e ao universo gerado, a cooperação mútua entre grupos e indivíduos que comungam das mesmas idéias e conhecimentos e participam dos mesmos interesses em jogo, a colaboração recíproca entre comunidades distantes e sociedades locais, regionais e globais, o intercâmbio de atividades conscientes e de exercícios reais e racionais, temporais e históricos.
A Realidade da experiência cotidiana nos oferece essa possibilidade de vida e essa alternativa de trabalho: ser mediadores entre o ser e o vazio, intérpretes das concordâncias ou não entre a essência e o nada, visualizadores das discórdias ou não entre a substância vivente e o vácuo sem alma.
Somos pois na vida intercessores junto a Deus, realizando e construindo o ser, o pensar e o existir, e ignorando e destruindo os antagonismos da existência, as antinomias da humanidade, as contradições da vida, as adversidades da realidade e as contrariedades da consciência, da experiência e da existência, identificados com a cultura do mal, da morte e da violência e com uma mentalidade que despreza a saúde das pessoas e o bem-estar pessoal e social.
Nessas relações de vida, que fazem a conexão entre o ser e o vazio, se acha a energia vital, a dinâmica do mundo, o movimento da natureza e o processo de vida móvel do universo.
Somos relações vivas.
Vivemos em situações intercambiantes.
Existimos a partir de interatividades que se completam e em função de compartilhamentos que se enriquecem e aperfeiçoam na ajuda de uns aos outros.
Somos operações interdependentes.
Tal verdade real nos afasta de uma vida sem sentido.
Então, o vazio foge de nós e o ser se enche de conteúdo humano e natural.
Até as pedras se integram dentro dessa realidade interativa.
Tornam-se pedras vivas.
Ajudam na construção do edifício do bem e da paz, o principal conteúdo do ser.
Somos essas pedras vivas, produzindo no seio das sociedades humanas a fraternidade universal e a solidariedade entre os povos.
É como se Deus viesse habitar no meio de nós.
Ele, o Ser sem vazio.

2

O Silêncio da Madrugada

Acredito que esse tempo que se chama madrugada tenha um segredo de sucesso e um estado de felicidade, que, através do silêncio interno e externo, nos conduz ao sono tranquilo, ao ordenamento da mente e à organização de nossas idéias, disciplinando nosso corpo cansado, renovando nossa atividade celular, sanguínea e orgânica, reestruturando todas as funções de nossos órgãos, aparelhos e sistemas, o que reflete para nós como o silêncio é fértil, condutor de nós para caminhos de paz interior e de bondade nos relacionamentos e virtude em nossas atitudes cotidianas, salientando-nos que esse silenciar de nossa alma vem de um profundo instante de deserto, quando superando solidões, tristezas e angústias, e atravessando os vazios da realidade e os nadas da existência conseguimos estruturar a nossa vida e sistematizar nossas práticas de cada hora, minuto e segundo. De fato, por meio do deserto da madrugada, e suas virtudes de silêncio apaziguante e de vazio calmante e de nada tranquilizante, reativamos nossas energias e refazemos nossas forças, e nos animamos para o dia seguinte, continuando a construir virtudes e boas ações, consequência de uma noite de deserto, de uma obscuridade em silêncio, de umas trevas esvaziantes e de uma madrugada nadante, onde nadamos do nada, pelo nada e para o nada. Tal realidade nadante é a fonte da nossa inesgotável riqueza de vida, reprodutora do bem que fazemos e da paz que vivemos, dos trabalhos que desempenhamos todos os dias e das atividades que restauramos em cada circunstância vivida, a todo momento e a cada instante praticado. Deste modo, o silêncio faz de nossas madrugadas a base de nosso edifício de vida quando geramos uma estrada de otimismos e positividades para toda a sociedade. Sim, esvaziar-se nos faz fecundos, fundos e profundos. Somos seres nadantes. Porque a vida é o oceano do silêncio, princípio de todas as coisas e origem de todos os seres.

3

A Vida em Metamorfose

As transformações sociais e culturais, políticas e econômicas, da vida moderna também afetam a nossa interioridade, causando vazios na consciência quando esta busca sua autenticidade, sua verdade ontológica e transcendental, ou sua transparência ética e espiritual. Esses gargalos mentais manifestam os buracos da inteligência onde penetram as nossas ausências na família ou no trabalho, as nossas carências afetivas e sentimentais, as nossas dependências interpessoais e as nossas incongruências lógicas, críticas e dialéticas, o que nos faz muitas vezes ecléticos diante do cotidiano ou insofismáticos perante uma realidade que insiste em preencher os nossos nadas do corpo e da alma, da mente e do espírito, causando-nos quase sempre náuseas biológicas e insatisfação psicológica, visto ainda não nos acostumarmos com as ococidades de nosso pensamento envolto por fenômenos ideológicos, que conseguem refletir a nossa parcial ambiência doentia quando é claro esses reflexos internos de nossa alma assumem posturas patológicas contagiando a nós e os outros, prisioneiros de nossos esvaziamentos ou escravos de nossas cadeias do ser que nos envolve. Assim, nossa existência de cada dia e de toda noite começa a viver daqueles traumas do espírito e suas frustrações encontradas nas experiências de nossas atitudes pensadas e impensadas. Logo, nossas metamorfoses cotidianas igualmente contaminam nossa realidade espiritual, que então se torna vazia de conteúdos que realmente interessam ao nosso interior. Então, sofremos com essas carências internas. Nosso ser esvazia-se profundamente.

4

O Nada existe

Hoje de tarde, depois do almoço, seitei-me no sofá da sala de estar do meu apartamento para descansar um pouco e refletir sobre a vida e o trabalho, as pessoas e a sociedade, o movimento das ruas, a confusão dos supermercados e shoppings do bairro, a violência de bandidos e policiais em choque, as balas perdidas voando nas praças e avenidas da Cidade, o silêncio e a natureza dos campos, as boas relações entre as pessoas, minhas paqueras de sempre, minhas namoradas de plantão, o cotidiano carregado de problemas, conflitos e dificuldades, sonhos e realidade, desejos e necessidades, o tempo e a história, e o além na eternidade. Então fiz silêncio, Do meu lado, ouvi passarinhos cantando, os vizinhos brigando, o som das caixas dágua se movimentando, os gritos de crianças brincando e o bate-papo alegre e sábio de velhinhos e aposentados conversando como se estivessem de bem com a vida e em paz com as pessoas em seu entorno. Observei que no fundo do pensamento, na calma da alma e na tranquilidade do espírito, algo insistia em falar, mas que não era ouvido nem percebido, e apesar de ser ignorado tinha voz e queria vez nos ouvidos dos homens e nos olhares românticos das mulheres. Não sei o que era. Era alguma coisa que não conseguia identificar, contudo tinha vida, parecia desejar insistir em viver, existir e se manifestar a alguém. Gritava mas não escutava. Dizia algo mas acho que não dava para ouvir direito suas palavras e mensagem. Foi então que subitamente descobri que não era nada. Ou que era simplesmente o vazio das profundidades do ser e o nada das essências da realidade. Estava dentro do cotidiano, entretanto sua voz conseguia estar apagada, eram negros seus dizeres, ficavam mortas as suas palavras. Quem sabe um cemitério andante investido de velórios constantes e enterros permanentes. Mas não era nada. Sim, o nada existia. Seu manifesto se fez silêncio. No silêncio, acordei para aquela realidade. O Nada existe e é real.

5

Hoje, esvaziei-me

Em casa, quando o silêncio tomou conta de mim, ignorei meus instantes na rua ou minha presença junto à família ou minha insistência no trabalho, e ausentei-me de mim mesmo, me esqueci do meu eu, e então ouvi lá fora o barulho dos carros gritando ruídos sem cessar, os passarinhos cantando uma linda melodia de entardecer, as pessoas e os vizinhos conversando como se estivessem em um botequim, as bombas de água do edifício onde moro soltando sons elevados como o rugir dos leões em plena floresta da África Setentrional. Eram 4 horas da tarde. Sentia-me oco por dentro e por fora. O Nada mergulhou em mim de um tal modo que minha consciência parecia não ter fenômenos mentais, meu pensamento estava sem idéias, meus conhecimentos desapareceram simplesmente, e olhei-me e me vi nu dentro do meu quarto de dormir. E olhava para as paredes tentando encontrar uma saída para aquele vazio profundo onde o silêncio vociferava alto e o nada insistia em se apossar de mim. Ali, encontrava-me dentro do oceano de uma existência carente, sem sentido algum, angustiada e triste, sem razões aparentes para se constituir em realidade cotidiana. Não havia significado para aquele momento. Via-me burro. Não entendia nada. As paredes talvez quisessem me falar alguma coisa. Então, pensei em Alguém Superior que pudesse me ajudar a sair daquela situação de crise espiritual, antes que o medo da vida se achegasse a mim, ou a aflição e o desespero se atirassem perante o meu corpo cansado, a minha alma fadigada e a minha mente esgotada de tanto tentar saber o que então estava acontecendo comigo. Estava nu espiritualmente. Surpreendentemente, uma luz interior sacudiu o meu espírito e acordei do meu sono metafísico. Novamente, brilhava a minha inteligência. E foi assim que fugi daquela prisão interna e deixei a escravidão da minha alma. Era Alguém que tocava o meu ser, movia o meu pensamento em lágrimas, e transformava para melhor aquelas circunstâncias indefinidas de realidades indeterminadas. Sai da confusão mental e emocional e outra vez voltei ao meu ego, agora controlador do meu íntimo e dominador das minhas experiências de dentro e de fora. E ao anoitecer lembrei-me de Deus, e em paz adormeceu a minha vida. No vazio, Alguém apareceu. Não sei o seu nome. Mas posso chamá-Lo de luz. Ele iluminou-me naqueles minutos e segundos de terror. O Terror da alma.

6

Precisamos da solidão

Estar sozinho ontem como hoje é uma necessidade humana primordial ainda que nossas atividades cotidianas se encontrem com muita gente ao nosso redor visto que nossa privacidade precisa ter voz e vez diante do barulho do mundo quando então ordenamos a nossa mente, podemos cuidar de nossas coisas pessoais, disciplinamos nosso dia a dia e organizamos tudo que faz parte de nossa realidade interna e externa. Faz-nos bem a solidão. É imprescindível de vez em quando estarmos a sós, fazermos silêncio e deixarmos o Espírito Superior nos falar da intimidade do ser, da essência do pensamento e da substância da existência, a fim de que levemos nossa vida com transparência de consciência e com a verdade de nossa interioridade. Deus gosta de conversar conosco, e nada melhor que o silêncio para que isso ocorra em nossa realidade de cada dia e de toda noite. É preciso nos calar, silenciar, e no vazio da realidade dialogar com Alguém maior e melhor que nós. Ao fazermos isso, cresceremos em autenticidade, teremos a tendência do equilíbrio nas ações e o bom-senso nas coisas, saberemos discernir o bem do mal, e livremente optarmos por aquilo que é bom para nós e nos faz bem cotidianamente. Assim deve ser a nossa vida diária. Feita igualmente de instantes solitários para que o nosso convívio humano e social tenha mais verdade, mais profundidade de relacionamento, mais raizes de conteúdos incentivadores de nosso comportamento de todos os dias. Saberemos pois desta maneira viver com essência a nossa existência, e fazer de nosso cotidiano uma passarela de bondade, equilíbrio e otimismo, virtudes essas adquiridas quando o vazio da solidão grita mais alto em nossa vida. É bom estar só.

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O Mergulho no Vácuo

Há situações na vida cotidiana em que nos encontramos incertos, duvidosos e indecisos nas nossas tarefas diárias, ou inquietos, instáveis e inseguros nas nossas atitudes e relacionamentos, ou então o medo se apossa de nós, a aflição invade a nossa alma e o nosso espírito fica confuso sem encontrar uma saida ou uma resposta para nossos problemas existenciais, nossas dificuldades na rua, na família e no trabalho, nossos conflitos de consciência e nossas contrariedades físicas e mentais, emocionais e psicológicas, até atingir o interior da realidade quando geramos violência e agressividade em torno de nós. Tais circunstâncias de dúvida e indefinição, incerteza e indeterminação podem configurar um estado de vácuo em nossa interioridade, porque nos percebemos esvaziados espiritualmente, sozinhos no mundo, cercados de inimigos por todos os lados, e então todos se fazem nossos adversários criticando nossas ações pessoais e coletivas, questionando as nossas maneiras de ser, pensar e agir, interrogando-nos constantemente sobre nossas relações amorosas, cordiais e sentimentais, ou ainda nos excluindo de seu convívio e nos expulsando de sua companhia. Nesses instantes confusos e complicados, nos vemos sozinhos, sem nada nem ninguém, todos fogem de nós, o universo conspira contra nosso jeito de viver e a natureza parece entrar em contradição conosco mesmo problematizando nosso dia a dia, criando crises psicossociais, isolamento e confusão de idéias, ausência de valores seguros e carência de princípios estáveis, necessários e absolutos. Esse estado de crise psicológica faz-nos mergulhar no vazio da existência e o vácuo passa a ser a nossa única alternativa de valor, a nossa atitude diante dos problemas, a nossa realidade interna e externa. Nesses momentos críticos e dialéticos, urge nos firmar em antigos princípios e abraçar valores tradicionais como garantia de boa orientação para o nosso cotidiano e fundamento para a nossa tranquilidade interior e estabilidade emocional. Perante essa realidade de metamorfoses permanentes, buscamos nos encontrar, achar respostas para tantas dúvidas e procurar soluções para muitas controvérsias da mente, que afetam o corpo, contagiam a alma e insatisfazem o espírito. Talvez a idéia de Deus nos traga segurança nessa hora. Ou a presença de amigos nos acalmem de uma vez por todas. Ou mesmo circundados por mulheres e pessoas de confiança conseguimos alterar esse quadro negro existencial, e enfim repousar na paz interior e no descanso do espírito. É preciso juizo então, ter equilíbrio na cabeça e bom-senso com as coisas e atividades que nos envolvem. Um pouco de otimismo também pode nos ajudar. Todavia, o mais importante é cultivarmos ora atitudes de bondade, de concórdia e convergência, praticando o bem e convivendo em paz uns com os outros. Que nessas condições a violência não tome conta nunca de nós. Urge paciência e equilíbrio, virtudes básicas para superar o vácuo em nossa vida de todos os dias e todas as noites. Tenhamos fé. Rezemos. E que Deus nos ajude nessa hora.

8

Sozinhos muitas vezes

O Vazio se torna uma realidade constante na nossa vida de cada dia e de toda noite quando raras vezes nos vemos sozinhos diante dos problemas, lidando com os conflitos na família, na rua e no trabalho, assumindo dificuldades em nossos relacionamentos e atitudes perante as pessoas do cotidiano. Então, mergulhamos no nada, o silêncio parece ser a nossa única realidade, tudo se confunde e todos passam a ser uma indefinição na nossa existência diária e noturna, o que faz a realidade indeterminar-se e nós assim perdidos em um universo agora complicado, talvez sem sentido algum, sem o significado de uma vida que deveria ser vivida com otimismo e equilíbrio, profundidade e entusiasmo, abundância e fecundidade. Todavia, eis que estamos sós em frente a um mundo violento, de gente agressiva que só quer o nosso prejuizo financeiro, o nosso mal-estar psicológico e social, a nossa queda dentro e fora da realidade de todos dias e todas as noites. Ora, então, urge acordar e fugir desses instantes de depressão e aflição, superar o desespero e o pânico que muitas vezes toma conta de nós, ultrapassar o medo e a ansiedade de uma vida conflitante e contraditória, ultrapassar os antagonismos, distúrbios e transtornos de uma mente e de uma experiência que não se entendem, se chocam permanentemente, exigindo de nós coragem para mudar, transformar para melhor essa situação diversa e adversa, diferente e contrária, e deste modo mergulharmos em uma outra e nova realidade de boa saúde na consciência, material e espiritual. Que Deus nos ajude nessa hora de contrários.

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