quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Amor Patológico

Amor Doentio
Paixão Patológica

Considerações sócio-psicanalíticas sobre o recente episódio ocorrido em Santo André-SP, com fim trágico, envolvendo Eloá Pimentel, Nayara Vieira e Lindemberg Alves

Acompanhando e observando o sequestro há pouco encerrado em São Paulo, foi possível apreender algumas questões de cunho psicológico e seus efeitos sociais, o que nos conduz a refletir sobre o comportamento de algumas pessoas que vivem em sociedade cujo convívio se apresenta fortemente doentio e cujos relacionamentos se acham grandemente patológicos.
Imaginemos um caso real em que um bêbado no meio da rua com um revólver na mão ameaça atirar nas pessoas que estão em sua volta, pondo em risco sua integridade física e a desses transeuntes.
Inconsciente e fora de si, ausente de si mesmo, longe da realidade, total ou parcialmente irrealista e irracional, esse cachaceiro então resolve e decide mandar bala nessas pessoas que estão diante de si, ao seu lado ou ao seu redor.
No meio da multidão ali presente, certamente, ainda que possa errar os tiros, por estar embriagado, talvez quem sabe acerte um ou dois dos pedestres que ali se encontram.
Mandando bala pra tudo quanto é lado, sua irresponsabilidade acaba matando algumas pessoas.
Como será sua condenação ?
Responderá por que tipo de crime ?
Que pena cumprirá ?
Tal fato imaginário serve de analogia para se analisar o fenômeno social e mental acontecido em um apartamento de Santo André-SP, que envolveu Eloá, Nayara e Lindemberg.
Lindemberg, o sequestrador.
Eloá e Nayara, duas gatas glamourosas – como gostavam de ser chamadas – estudantes, colegas de escola, muito amigas, ativistas do amor pelas ruas, praças e avenidas de Santo André.
Lindemberg, o bêbado, o louco, o doente mental, de amor doente, de paixão patológica, alucinado e enlouquecido depois de 5 dias de sequestro – do dia 13 de outubro até o dia 17 de outubro – quase 120 horas de cêrco, aprisionamento e escravidão doentia diante das duas meninas de 15 anos cada, ambas controladas, monitoradas e sob a mira de uma pistola.
Adoecido pelo amor não correspondido de Eloá, pressionado pelo clima de mau-estar então reinante e assustado com o ambiente fora do apartamente onde todos – polícia, delegacia, seguranças e o povo que ali acompanhava os rumos do sequestro – estavam sob tensão, aflitos e preocupados com o que podia lá acontecer, Lindemberg(22 anos) ameaçava se suicidar e matar também as duas garotas paulistas sequestradas, aprisionadas por um doente fora de si, sem juizo, doido para agir com violência e acabar com aquilo que estava acontecendo, destruir tudo e a todos que aparecessem na sua frente.
E foi o que ocorreu.
Quando a polícia e as autoridades ali presentes resolveram acabar com essa situação incômoda e instável, e decidiram então invadir o apartamento de Eloá – o barulho e os movimentos, e a bomba que explodiu na porta do apartamento, arrombando-a, perturbaram, incomodaram e assustaram o sequestrador - foi dado pois o tiro da discórdia, as balas da morte e o final trágico, cruel e perverso de um caso adverso e contraditório cujas vítimas, feridas e machucadas, foram Eloá e sua amiga fiel Nayara.
E Eloá não resistiu aos ferimentos e morreu no Hospital de Santo André, no ABC Paulista.
E agora ?
O que um amor louco e doente, uma paixão violenta e um relacionamento patológico proporcionaram para toda a sociedade paulista e brasileira que acompanhavam o dia a dia dessa ocorrência triste, angustiante e agonizante...
Na verdade, em casos como esses, não podemos fazer o jogo do adversário.
Negociar sim, mas sem vacilar ou titubiar.
Fazar acordos, porém manter as diferenças.
Não deve existir diálogo entre o bem e o mal.
O Bem é bom, e o mal é mau.
Não há contratos entre eles.
Nem sintonias nem harmonias.
Sim, fazer a diferença.
Bem é bem, e mal é mal.
Temos então que manter o equilíbrio mental e emocional.
Administrar bem o ambiente que nos é contrário.
Agir com clareza e lucidez, juizo e bom-senso.
Ter calma e tranquilidade.
Esfriar as possibilidades de violência e agressão.
Ser consciente de suas responsabilidades nessa hora.
Pensar antes de tomar certas atitudes.
Ser racional.
Cogitar respostas positivas e soluções otimistas.
Se lembrar de Deus nesse momento.
Recordar que a vida é boa e vale a pena viver.
É bonito existir.
Todavia, jamais fazer o jogo do adversário.
Nunca colaborar com o inimigo.
Não permitir que o mal e o mau tomem conta do momento, governem a situação e monopolizem as circunstâncias reais estabelecidas presentemente.
Ao contrário, agir com seriedade, com respeito e com responsabilidade.
Eliminar se possível os riscos de morte e violência.
Procurar ser sempre transparente, construir opções e não destruir alternativas.
Não desistir nem desanimar.
Recomeçar sempre.
Até que o final seja feliz para todos.
Isso nos é possível.
O Impossível nós entregamos nas mãos de Deus.
Pareceu-nos um episódio aparentemente sem possibilidade de resultados agradáveis.
Diante da loucura de um marginal, tudo pode acontecer.
E aconteceu.
Falhou o doente mental que perdeu o total controle de si e disparou a arma de fogo atingindo aquelas duas adolescentes.
Falhou também o GAT do Estado Paulista porque deu as condições suficientes – fazendo barulho e agindo com inexperiência, precipitação e imprudência – para o sequestrador se alterar, se perturbar interiormente, perder a cabeça e disparar o gatilho da morte contra tudo e contra todos, acertando pois as duas jovens mulheres.
De fato, a dependência patológica de um amor e de uma paixão doentes foi na verdade a principal causa de tão infeliz desfecho de relacionamento, em que a morte venceu e a maldade e a violência foram mais fortes e mais poderosas que a boa-vontade dos homens e o amor carinhoso de duas jovens crianças de 15 anos cada.
É verdade.
Deus perdeu mais uma vez.

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