segunda-feira, 25 de agosto de 2008

João Cândido e os Direitos Humanos

14º. Prêmio Nacional Assis Chateaubriand de Redação

João Cândido e os Direitos Humanos

João Cândido
(1880-1969)
(Encruzilhada, RGS – São João de Meriti, RJ)

Da Revolta da Chibata à Justiça Social
A Força das idéias, a necessidade de valores e o movimento cotidiano de luta pelos direitos humanos no Brasil, segundo João Cândido Felisberto, em seus 89 anos de vida

O “Almirante Negro” dissera em 1968 que seu movimento de libertação nacional apenas desejava acabar com a Chibata, abolir os maus-tratos, destruir as injustiças sociais cometidas contra os marinheiros do Brasil, seus companheiros de trabalho, de jornada e de caminhada pelos mares brasileiros.
Em seu contexto histórico, séc.XIX-XX, carregado de inverdades e desrespeito aos direitos humanos, pleno de irresponsabilidades governamentais e descompromissos com o povo brasileiro, cheio de aberrações sociais, políticas e econômicas, João Cândido Felisberto travou um duelo incessante contra as autoridades da Marinha e do Estado Brasileiros, entrou em conflito constante com os interesses autoritários e as ideologias escravagistas de seus conterrâneos, fugindo pois, quando possível, de suas manipulações psicológicas, de seu aprisionamento ideológico e do monopólio centralizador de intenções defendidas pelo governo do ali Presidente Hermes da Fonseca, que, pressionado socialmente e pela opinião pública, e pelos movimentos populares e trabalhistas daquele momento controverso cujo ambiente respirava dor e violência, maldade e injustiça, revolta e sofrimento, cedeu à maioria das reivindicações dos marinheiros-trabalhadores, tais como o aumento de seus salários, a concessão de anistia a muitos patriotas e melhores condições, relações e situações de vida e trabalho, saúde e educação para os grupos e indivíduos, comunidades e sociedades locais e regionais então necessitadas de ajuda e solidariedade por parte de todos, sobretudo das autoridades do país. Em tal processo renovador de culturas e libertador de mentalidades que durou até o fim de seus dias, em 1969, João Cândido realmente sofreu e trabalhou bastante, foi preso diversas vezes, expulso da Marinha do Brasil, perseguido politicamente, em uma época relativamente contrária à luta dos direitos humanos, adversa aos interesses dos trabalhadores e verdadeiramente negativa e pessimista em referência aos marinheiros brasileiros, escravos agora do poder constituido, prisioneiros de uma legislação que não os apoiava e dependentes da boa-vontade do executivo, legislativo e judiciário, únicos capazes de lhes proporcionar de verdade a garantia de seus direitos, o sustento de suas carências e necessidades e a defesa justa de seus desejos trabalhistas de reivindicação social. De fato, o advogado dos pobres, o defensor dos marinheiros, o lutador em prol dos trabalhadores, o criador e consolidador de idéias e ideais, o renovador de valores éticos e espirituais e o libertador de culturas e mentalidades em favor da luta trabalhista e em benefício dos direitos humanos de seus correligionários, o Coração Negro do povo brasileiro, João Cândido Felisberto, nascera para a batalha do dia a dia, viveu combatendo o bom combate da justiça social e morreu feliz, com a consciência tranquila, porque morreu matando o seu pior inimigo com o qual manteve convívio durante grande tempo de sua vida: matou o chicote e destruiu a chibata, adversários tradicionais, no tempo e na história da nação brasileira, permitindo a nós, hoje, aqui e agora, estarmos livres de tão augusta covardia e de tão cruel ignorância, pobreza moral e miséria espiritual, orquestradas pelo autoritarismo totalitário dos ditadores federais, estaduais e municipais da vida e existência cotidianas da população brasileira até então.
Que São João de Meriti, na Baixada Fluminense, hoje, neste momento, com os filhos e as mulheres de João Cândido, se é que ainda se encontram no meio de nós, façam festa e celebrem a grandeza de um ilustre brasileiro, vencedor do chicote da maldade e ganhador da chibata da ruindade, destruidor da cultura da violência e construidor de uma nova mentalidade social e existencial onde reina o bem e a paz, o amor e a vida, o direito e a justiça, a fraternidade e a solidariedade, até as circunstâncias atuais.
Que Deus, o Senhor, abençôe João Cândido e João de Meriti, palcos de uma jornada acabada em defesa da justiça, dando-lhes agora no Céu da Eternidade o Prêmio Eterno por suas caminhadas de direito e de respeito e de liberdade com responsabilidade em benefício do Brasil e de toda a humanidade.

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